sexta-feira, 19 de julho de 2013

UMA FÁBULA DE PEDREIROS LIVRES
Eram 12:00, em ponto;  o sol estava à pino, quando o irmão segundo vigilante mandou os obreiros ao trabalho, e, assim,  a grande obra ganhava mais um dia de suor e labor daqueles valorosos e dedicados obreiros.
Como de costume,  o canteiro estava impecável e a cada peça terminada, rapidamente, se recolhia ao se lugar e dava lugar a outro trabalho e de tão dinâmico se dava o movimento, foi fácil para alguns perceberem um jovem irmão que destoava dos demais por estar impavidamente imóvel defronte a uma pedra milimetricamente esquadrejada, e de tal forma polida, que como um espelho este podia avistar a todos os que estavam ao seu redor, apenas no fitar de suas 4 faces.
Envolvidos em suas atividades individuais, muitos dos irmãos sequer lhe davam atenção; porém, do oriente, ele estava sendo observado, extasiado com aquela construção, estático, como quem espera os louros de uma grande conquista.
Percebendo isso, muitos dos mestres o ignoravam;  não lhe daremos atenção,  dizia um mestre a outro,  para que não fique cheio de si,  sussurravam.
Mas um dos irmãos, o mais sábio por sinal, portando um livro aberto sobre fundo radiante foi ter com este irmão, companheiro.
- Boa tarde meu querido irmão, mas que bela obra tens aí, exclamou!
Ao que lhe respondeu o jovem companheiro:
- E não o é!  Poucas vi iguais, com tamanha precisão e tão perfeito esquadrejamento. Acho até que deveria ser exposta como exemplo, para todos pudessem ver que beleza é esta obra. Gabou-se.
- Sem dúvida – concordou o Orador – E acrescento, uma construção tão bela precisa ser imortalizada, pois a que outra pedra restaria a honra de ser a base, no angulo Nordeste de tão promissora construção que erigimos aqui?
Logo aquela conversa suscitaria a atenção de outros irmãos, pois afinal, não era todo dia que a sabedoria do Irmão orador estava ao alcance de todos no ocidente.
Por fim acabaram amontoando-se vários irmãos para admirar aquela cena e muitos se deram conta daquele trabalho justo e perfeito, que por tanto tempo, apenas aquele companheiro olhava e observava.
Muito feliz por tanta atenção conquistada, disse aquele jovem irmão:
- Perfeitas as suas palavras meu sábio irmão orador, e a propósito, visto que tão perfeita obra produzi, já é tempo de ser reconhecido meu valor nesta oficina, inclusive, desafio-os a encontrar alguém que tenha realizado uma obra tão bela quanto esta, tão  esquadrejada; o que, com certeza,  não encontrarás; Assim,  exijo por tê-la feito, meu aumento de salário.
O irmão Orador, sem que sequer tremesse seu semblante, assentiu com a cabeça; neste momento já observado por toda a loja que simplesmente parou, serenamente lhe respondeu:
- Mais uma vez tendes razão, irmão companheiro!;  e todos o fitaram com surpresa;  porém, continuou– já estando aceito o seu desafio, advirto-o que  uma obra não pode ser considerada completa e perfeita, apenas ao olharmos sua casca, pois assim como a romã é sustentada internamente por suas sementes, a retidão e a justiça somente serão sustentadas por fortes princípios internos, os quais  não  podem ser vistos a olho nu. Mas olhemos ao nosso redor!
Diante do que estava acontecendo, poucos irmãos ainda continuavam trabalhando; porém,  ao olharem no topo da coluna nordeste, lá avistaram um simples aprendiz, com uma pedra tão perfeita quanto à do companheiro, e que por estar tão concentrado em seu trabalho, sequer levantou a cabeça quando aquela turba foi ao seu encontro.
Ao perceber, enfim,  o Orador a sua esquerda e o companheiro a sua direita,  o aprendiz os reverenciou e feliz por suas presença lhes recepcionou perguntando:
- A que devo a honra dos meus irmãos virem observar-me no trabalho?
Ao que o companheiro, sem sequer lhe responder, já começara a medir a pedra do aprendiz;  como que a procurar alguma imperfeição, enquanto este conversava com o irmão Orador que fez o seguinte comentário:
- Que bela obra tens aí irmão aprendiz!
Ao que lhe respondeu:
- Trabalho nela há muito tempo meu irmão!! e sempre que tento me convencer de que está completa, procuro e encontro alguma imperfeição; Então, recomeço novamente o trabalho alegremente, pois não é o fim que procuro; mas um eterno recomeço.
Sem ouvir-lhe como deveria, o companheiro diz:  – Pois então, acho que não deves mais te preocupar com isso, pois inspecionei sua obra e, é claro que não está tão boa quanto a minha, mas está quase perfeita;  acho até que também deves exigir aumento de salário; e permito-lhe até que ponha tua pedra logo acima da minha, como base no ângulo Nordeste da obra que sobre elas será levantada; mas o nome, insisto, seja posto somente na minha, pois venci o desafio.
Fitando-lhe com feição de dúvida, olha-lhe com ternura o irmão aprendiz, dizendo-lhe:
- Meu irmão companheiro, com todo o respeito,  não entendo, como posso eu vangloriar-me desta obra se não fui quem a construiu?
- Mas como, diz-lhe enfaticamente o companheiro? se vejo teu avental assim, como toda a tua vestimenta, lavada em pó de pedra e tu mesmo já disseste que há tempos vem trabalhando nesta obra?
- E não é isso, por fim, que viemos fazer aqui? – Interrompe-lhe educadamente o Orador;  ou julgas que gastamos em vão nossas forças?
Após ouvi-lo pacientemente, pede a palavra o irmão aprendiz, dizendo-lhe:
- Entendo a dúvida de nosso irmão companheiro! porém, ainda assim, não me sinto proprietário de tal obra apenas por que nela trabalhei;  – e estendendo em suas mãos, mostrando o maço e o cinzel, disse-lhe:  - Sinto-me, por fim, nesta construção como estas ferramentas, que nas mãos de Deus, dão forma ao que o G.’.A.’.D.’.U.’. projetou para minha vida e para a vida daqueles que ao meu redor residem; – e completou – Como poderia, eu, roubar a glória do Grande arquiteto! Pois, se não for de sua vontade sequer levanto de minha cama pela manhã; sequer respiro o ar que a todos é facultado gratuitamente!
Mas, com o coração endurecido, o companheiro pôs-se a exigir a promessa do Orador e um grande brado se fez ouvir do trono de Salomão.
- Fazei cumprir o que foi prometido ao irmão companheiro! – Era a voz do Venerável Mestre;  – porém, disse,  é minha a honra de escrever o que lhe cabe em sua pedra.
Tão feliz que não cabia em si, o companheiro viu sua pedra ser posta no topo da coluna Nordeste e várias pedras serem colocadas sobre ela; e quanto mais pedras eram colocadas mais ele vibrava; porém, começou-se a perceber um problema; Por mais que os mestres tentassem, não se conseguia manter a estrutura firme e a beleza daquela obra não se sustentava; até que pararam de construí-la, pois material estava sendo gasto e nada dava certo.
Indignado com o que ocorrera, o irmão companheiro, acompanhado do Orador e do irmão arquiteto, foi vistoriar a construção.
- Só podem estar querendo me boicotar – disse o irmão companheiro;  Como pode uma pedra tão perfeita ser base para uma construção tão imperfeita?
Sem nada dizer, os irmãos, orador e arquiteto, se puseram a esperar, aguardando que algo fosse percebido pelo companheiro;  e em verdade, o foi.
Ao olhar com a devida atenção, o irmão companheiro percebeu que o Venerável Mestre não havia escrito seu nome na pedra, mas nela constava gravada uma palavra; lá estava escrito VAIDADE.
Então, ele tudo entendeu! Comovido, voltou-se para o irmão aprendiz e pediu-lhe sinceras desculpas. Com os olhos também marejados,  o irmão Orador lhe deu um abraço, e antes que com ele também se desculpasse, deu suas considerações, nos seguintes termos:

A mais bela obra sustentada sobre a vaidade é oca e sem nenhuma utilidade! morre em si mesma e mata tudo que se aproxima dela. Acrescento que a vaidade é o pior dos vícios, pois é inimiga da inteligência; o vaidoso, por achar que nada mais tem a aprender, e que é  tão melhor que todos, acaba isolando-se; aprisionado pelo próprio ego,  culmina por ficar relegado ao ostracismo e à solidão. E concluiu dizendo: A vaidade já destruiu impérios, e até universos! quando uma loja morre por vaidades, é um conjunto de galáxias que se perde. “

O venerável Mestre, ao ver que ainda não tinha conseguido se recuperar da lição que havia aprendido, dirigiu-se ao companheiro em suas palavras finais, dizendo-lhe o seguinte:

“Anima-te irmão companheiro, pois agora é a hora de aprender; tenho certeza que a partir desta lição, serás, no tempo certo, um mestre mais preparado, do que teria sido se por tudo isso não tivesses passado. – e acrescentou – de toda obra de tuas mãos, dá graças ao Grande arquiteto do Universo, pois é dele que vem o querer e o realizar! Deves agradecê-lo, sobretudo, por estares aqui e por seres maço e cinzel nas suas mãos, a construir um novo mundo, que a partir de hoje terá uma pedra mais desbastada, que é você, a fazer parte desta construção.”

- Que horas são irmão primeiro Vigilante?  bradou do Trono de Salomão.

- Meia noite em ponto, V.’.M.’.!  respondeu-lhe o irmão Primeiro Vigilante.

E, assim, pensou, mais um dia  se passou na oficina, com a certeza de que os trabalhos transcorreram-se justos e perfeitos, e mais um pequeno passo foi dado para a evolução do Gênero humano, pois afinal, concluiu perguntando-se: o que viemos fazer aqui?

"Uma mente que se abre a uma nova idéia, nunca mais torna ao seu tamanho original." ( Albert Einstein).

Adaptado da prancha do
 Ir.’. Wiliam F. Nogueira, M.M.

A.’.R.’.L.’.S.’. Wilton Cunha nº 144, Or.’.  de São João de Meriti (RJ) - Brasil

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