sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A Biblia - Estrutura didática

 A  Bíblia

1.     Origem

Foi no seio do povo hebreu que nasceu a Bíblia.
A Bíblia é a coleção dos livros que contêm a Palavra de Deus. A Bíblia é uma mensagem que Deus dirigiu e continua a dirigir aos homens, através dos homens.
O termo grego donde provém a palavra Bíblia significava originariamente: os Livros. Em Latim, este termo transformou-se num singular e passou a designar exclusivamente coleção dos textos que formam a Sagrada Escritura.
A Bíblia completa contêm 69 escritos (71 ou 72 - conforme diversas maneiras de contar), obras de numerosos autores, tendo cada um deles caracteres próprios.
Os títulos destes livros lembram por vezes o nome dos seus autores, outras vezes o nome dos seus destinatários ou ainda os assuntos que neles são tratados. É-nos desconhecido o nome de muitos desses autores; alguns escritos são o produto de uma colaboração ou constituem uma coleção de textos antigos compilados posteriormente. Os autores bíblicos viveram em lugares e em ambientes muito diversos: cada um deles imprimiu na sua obra traços muito característicos de sua personalidade.

2. As Divisões da Bíblia

Divide-se a Bíblia em duas grandes partes, chamadas respectivamente ANTIGO e NOVO TESTAMENTOS, sendo:
1ª parte: Antigo Testamento (AT) - 42 livros
2ª parte: Novo Testamento (NT) - 27 livros

Divisões do Antigo Testamento:
1º. grupo: A Lei                         5 livros
2º. grupo: A História                  15 livros
3º. grupo: A Poesia                    5 livros
4º. grupo: As Profecias              17 livros

Divisões do Novo Testamento:
1º. grupo: Biografia                    4 Evangelhos
2º. grupo: A História                  Atos dos Apóstolos
3º. grupo: Epístolas                    21 cartas
4º. grupo: Profecias                    Apocalipse


3. O Antigo Testamento

A coleção dos livros do Antigo Testamento originou-se no seio da comunidade dos Judeus que a foram ajuntando no decorrer de sua historia. Dividíramos em três partes:

1. A Lei (Torá). Contêm os cinco livros (chamados mais tarde de “O Pentateuco”, que significa os cinco volumes), formando o núcleo fundamental da Bíblia. Esses cinco livros são o Gênesis, o Êxodo, o Levítico, o Números e o Deuteronômío. Escritos por Moisés.

2. Os Profetas. Os judeus compreendiam por esse título não somente os livros que hoje são denominados Profetas, mas também a maioria dos escritos que hoje costumamos chamar Livros Históricos.
3. Os Escritos. Os judeus denominavam por este nome os livros dos Salmos, dos Provérbios, de Jó, do Cântico dos Cânticos, de Rute, das lamentações, do Eclesíastes, de Ester, de Daniel, de Esdras e Neemias com as Crônicas.

É a essa divisão que se refere o divino Mestre quando mais de uma vez (p. ex. Mat. 22, 40) falou “A Lei e os Profetas”.
Essa coleção já estava terminada no segundo século antes de nossa era.
Nessa mesma época os Judeus já estavam, em parte, dispersos pelo mundo. Uma importante colônia judaica vivia então no Egito, nomeadamente em Alexandria, onde se falava comumente a língua grega. A Bíblia foi então traduzida para o grego. Alguns escritos recentes lhe foram acrescentados sem que os judeus de Jerusalém os reconhecessem como inspirados. São os seguintes livros: Tobias e Judite alguns suplementos dos Livros de Daniel e de Ester os livros da Sabedoria e do Eclesiástico, Baruc e a Carta de Jeremias, que se lê hoje no último capítulo de Baruc. A igreja Cristã admitiu-os como inspirados da mesma forma que aos outros livros.
No tempo da Reforma, os Protestantes, depois de terem hesitado por algum tempo, decidiram não mais admiti-los nas suas Bíblias, pelo simples fato de não fazerem parte da Bíblia hebraica primitiva. Daí a diferença que há ainda hoje entre as edições protestantes e as edições católicas da Bíblia. Quanto ao Novo Testamento não há diferença alguma.
A Bíblia divide os 46 livros do Antigo Testamento do seguinte modo (alguns contam 44 livros, um indo Jeremias, Lamentações e Baruc):

1. Pentateuco: Os cinco livros iniciais escritos por Moisés: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.

2. Os Livros Históricos: Josué, Juizes, Rute, os dois Livros de Samuel, os dois Livros dos Reis, os dois Livros das Crônicas ou Paralipômenos, os dois Livros de Esdras e Neemías, os três livros de Tobias, Judite e Ester e, por fim, os dois Livros dos Macabeus.

3. Os Livros Sapienciais: Jó, os Salmos, os Provérbios, o Eclesiastes, o Cântico dos Cânticos, o Livros da Sabedoria e o Eclesiástico.

4. Os Livros Proféticos, designados pelo nome dos Profetas: Isaías, Jeremias (ao qual se acrescentam as Lamentações e Baruc), Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miquéias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.


4.  O Novo Testamento

A coleção dos Livros do Novo Testamento começou a formar-se na segunda metade do primeiro século na nossa era.
Seus 27 livros são assim distribuídos:

1. Cinco livros Históricos: Os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João, e os Atos dos Apóstolos.

2. Vinte e uma cartas dos Apóstolos. Paulo escreveu 14 cartas: 1 aos Romanos, 2 aos Coríntios, 1 aos Gálatas, 1 aos Efésisos, 1 aos Filipenses, 1 aos Colossenses, 2 aos Tessalonicenses, 2 a Timóteo, 1 a Tito, 1 a Filemon e 1 aos Hebreus. As outras cartas são as seguintes: 1 de Tiago, 2 de Pedro, 3 de João de Judas.

3. Um livro Profético: O Apocalipse de João.

As duas coleções que formam a Bíblia foram sendo traduzidas do grego para o latim desde o segundo século da nossa era. Mas a tradução latina mais espalhada é a que fez São Jerônimo, à base dos textos originais hebraicos e gregos, no fim do quarto século, denominada "Vulgata" (Vulgarizada).

5. O Sentido Espiritual da Bíblia

O Velho e o Novo Testamento

Entre o Velho e o Novo Testamento encontram-se diferenças profundas e singulares, que se revelam, muitas vezes, como fortes contrastes aos espíritos observadores, ansiosos pelas equações imediatas da experiência religiosa.
O Velho Testamento é a revelação da Lei. O Novo é a revelação do Amor. O primeiro consubstancia as elevadas experiências dos homens de Deus, que procuravam a visão verdadeira do Pai e de sua Casa de infinitas maravilhas. O segundo representa a mensagem de Deus a todos os que O buscam no caminho do mundo.
Com o primeiro, o homem bateu à porta da moradia paternal, perseguido pelas aflições, que lhes flagelavam a alma, atribulado com os problemas torturantes da vida. O Evangelho é a porta que se abriu, para que os filhos amorosos fossem recebidos. No Velho Testamento, a estrada é longa e, vezes sem conta, as criaturas humanas desfaleceram, entre os sofrimentos e as perplexidade. No Novo, é a estrela da manhã espiritual, resplandecendo de amor infinito, no céu de uma nova compreensão.
No primeiro, é o esforço humano. O Evangelho é a resposta divina.
A Bíblia reúne o Trabalho Santificador e a Coroa da Alegria.
O Profeta é o Operário. Jesus é o Salário na Revelação Maior. Eis porque, com o Cristo, se estabeleceu o caminho depois da procura torturante. E é por esse caminho que a alma do homem se libertará da Babilônia do mal, que sempre lançou o incêndio no mundo, em todos os tempos.
A Bíblia, desse modo, é o divino encontro dos filhos da Terra com o seu Pai. Suas imagens são profundas e sagradas. De suas palavras, nem uma só se perderá.
Um dia, no cimo do monte da redenção, os homens entregar-se-ão, de braços abertos, ao seu Salvador e Mestre. Então, nessa hora sublime, resplandecerá, para todas as consciências da Terra, a Palavra de Deus.

(Emmanuel, Francisco Cândido Xavier, Coletânea do Além, O Velho e o Novo Testamento, p. 108)
Caro amigo, na próxima postagem vamos trazer reflexões quanto ao estudo do Evangelho. sds fraternas
beto costa

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Terapia para o estresse


A crença na vida futura, por conseqüência, na imortalidade do Espírito e na sua destinação gloriosa, constitui a mais adequada autoterapia preventiva em relação ao estresse, bem como para a sua superação.
Isto porque, ultrapassando os limites imediatistas da existência orgânica, essa convicção dilata a perspectiva de felicidade, demonstrando que, não sendo conseguida de imediato, sê-lo-á, sem dúvida, um passo à frente, em ração da dilatação do tempo e da realidade no Mais Além, facultando realizações contínuas, ricas de experiências negativas e positivas que definem o rumo da plenitude.
Mediante essa atitude mental e emocional surge a alegria, em face de demonstrar que a dificuldade de hoje é o prelúdio da conquista de amanhã, qual ocorre com a flor que se estiola para libertar o fruto e a semente que nela jazem adormecidos.
Ao invés de uma existência linear, que se inicia no berço e termina no túmulo, essa decorre da vida em si mesma, que é preexistente e sobrevivente à disjunção molecular, resultando em aprendizagem contínua, na qual sucedem-se êxitos e aparentes fracassos que culminam em conquistas insuperáveis.
Ninguém consegue atingir qualquer meta que delineie sem passar por acertos e erros, elegendo os processos favoráveis e eliminando aqueles equivocados, sem desanimar, insistindo até a realização dos seus objetivos.
Desse modo, a fé no futuro acalma as aflições momentâneas sem o apoio do conformismo doentio, porém, proporcionando a coragem para vencer os impositivos perturbadores da atualidade.
Essa postura impede a instalação da ansiedade, em considerando-se a grandiosidade do tempo sem o imediatismo da ilusão. Ao mesmo tempo, enseja uma planificação de largo porte, sem os incômodos da angústia ou da precipitação.
As tensões, nada obstante, apresentam-se inevitáveis, em razão do curso dos acontecimentos que não pode ser detido. Superada uma ocorrência, logo outra acerca-se, isto quando não se atropelam na velocidade dos fenômenos humanos.
A maneira, porém, como são analisadas para serem aceitas, respondem pela emoção com que são enfrentadas.
Quando o individuo se educa na compreensão dos deveres que abraça, deduz de imediato, quantos esforços devem ser envidados, a fim de que  se consumem com eficiência os resultados em pauta. Programa, então, como enfrentar cada fase, a forma de executar cada tarefa, evitando-se a fadiga excessiva, o desgaste emocional, a irritabilidade que decorrem normalmente, da indisciplina e da rebeldia no trato e na convivência com as demais pessoas, com os deveres assumidos.
Quando ocorrem situações estressantes que são normais, de imediato cabe-lhe a renovação de idéias, a mudança de realização, a busca do refúgio na prece renovadora, que robustece de energias psíquicas e emocionais, vitalizando os sistemas físico e psicológico, momentaneamente afetados.
O ser humano necessita do trabalho que o dignifica, mas também do repouso que lhe renova as forças e faculta-lhe reflexões para bom e compensador desempenho.
Desse modo, é impositivo para a preservação ou conquista da saúde, que se estabeleçam períodos para férias, para relaxamento emocional, para mudanças de atividades, para exercícios físicos liberadores das tensões orgânicas e psicológicas,  agilizando o corpo mediante caminhadas, massagens, natação com a mente liberada dos problemas constritores.
É justo que o ser humano não olvide dos limites da sua condição de reencarnado, portanto sob imposições do carro orgânico, evitando os sonhos de super-homem, que alguns se atribuem.
Musicoterapia e socorro fraternal ao próximo, representam igualmente recursos valiosos para que a pessoa desencarcere-se da carga tensional e experimente alegria de viver e de servir, sentindo-se útil.
Ioga e meditação, acupuntura e outros recursos valiosos, denominados alternativos contribuem eficazmente para o relax, a renovação das energias gastas.
Sempre quando alguém se oferece ao Bem, ei-lo tocado pelos eflúvios da saúde e da harmonia, auto-realizando-se e aos demais ajudando.
A busca da beleza, sob qualquer aspecto considerada, contribui para o retorno ao bem-estar, superando o estresse e a inquietação.
Apesar desses recursos, se o paciente permanecer em transtorno por estresse, não deve adiar a assistência do psicoterapeuta, a fim de evitar a instalação de problemas neuróticos mais graves.
Esforçar-se por viver com alegria em qualquer conjuntura é terapia preventiva e libertadora para os males do estresse.

FRANCO, Divaldo. Conflitos Existenciais.  Pelo Espírito Joanna de Ângelis.  Salvador BA, LEAL 2005. p. 187-189.

domingo, 22 de setembro de 2013

O HOMEM DEPOIS DA MORTE

      "O HOMEM DEPOIS DA MORTE"...
                      "Na morte natural: O desligamento se faz gradualmente e
                           sem abalo. Frequentemente ele começa antes mesmo
                                que a vida se extingua, Na morte Violenta, por
                                       Suicídio ou Acidente, quase sempre os
                                             laços se rompem bruscamente".
               No momento da Morte, primeiramente é muito confuso, a alma precisa de algum tempo para se reconhecer, porque está meio atordoada, procurando inteirar-se da nova situação. Que está se encontrando. A lucidez das ideias e a memoria do passado lhe retornam a medida que se desfaz, a influência da matéria da qual, acaba de se libertar, e que divide a espécie de bruma que obscurece seus pensamentos. Sua perturbação depois da morte, segue de forma muito variável podendo ser de algumas horas, de vários dias, de vários meses e mesmo de vários anos. Se tornando menos longa a quem durante a vida, se identificaram como seu estado futuro, porque compreendem imediatamente sua situação, aceitando ou não sua condição momentânea, conforme tenha vivido mais materialmente, se tornando mais longa e sofrida.
               A libertação se faz gradualmente e com uma lentidão variável, segundo o indivíduo e a circunstância de sua morte. Os laços que unem a alma ao corpo, não se rompe senão pouco a pouco, tanto menos rapidamente quanto a vida foi mais material e mais sensual. As sensações que a alma experimenta nesse momento, são também muito variáveis a perturbação, que segue a morte nada tem de penosa ao homem de bem. Ela é calma e em tudo, semelhante a sensação que acompanha um despertar pacífico. Diferente daquele cuja consciência não é pura, e que mais preso a vida corporal que a espiritual. Ela é cheia de ansiedade e de angústia, que aumentam a medida que ela reconhece, porque então esta tomada de medo é de uma espécie de terror, em presença daquilo que vê e sobretudo daquilo que entre vê. A sensação que se poderia chamar física é a de um grande alívio e de imenso bem estar, sente-se como livre de um fardo, e se está muito feliz, por não sentir mais as dores corporais, que sentia antes de se sentir livres, libertos, se sentindo como se lhe tirassem pesadas correntes.
                Na sua nova situação a alma vê e ouve o que via e ouvia antes da morte. Mas vê e ouve outras coisas que escapam aos olhos humanos. Ouvimos frequentemente, quando se fala da vida Espiritual, que não se sabe como lá é, nem mesmo o que se passa, porque nenhuma pessoa de lá retornou. É um erro pensar e afirmar assim, pois Deus, permite que se mostre o contrário, através da comunicabilidade dos espíritos com o mundo terreno. O Espiritismo nos mostra isso, também através dos Médiuns, com as mais variadas sensibilidades das faculdades mediúnicas, nos mostrando através do que sentem, percebem, vejam, convivendo com o mundo espiritual, estando vivendo no mundo terreno. Com a morte o corpo físico, temos a oportunidade de encontrar com parentes, e até os muitos outros, que havia conhecido nas suas precedentes existências, geralmente aqueles que por ela mais se afeiçoam, vem recebê-la na sua chegada ao mundo dos espíritos. Ajudando a se libertar dos laços terrenos. A morte portanto, não é outra coisa senão a destruição do grosseiro envoltório do espírito, só o corpo morre, o espírito não morre. Com a morte do corpo, desembaraça-o de seus laços. Dele se liberta e recobra sua liberdade, como a borboleta saindo de sua crisálida.
               Mas não deixa somente o corpo material, conserva o perispirito, que constitui para ele uma espécie de corpo étereo, vaporoso, imponderável para nós de forma humana, que parece a forma tipo. Portanto precisa-se educar-se preparando-se para o desencarne (morte), Dissipando o medo que trazemos, porque ela é uma transição natural, de um plano para outro, só que, com as vibrações e meios diferentes. Portanto estudar mais os fundamentos do Espiritismo, através dos Legados Kardecista e as boas obras da Doutrina Espírita, irá muito nos fortalecer, dando-nos condições ao entendimento , aceitação, crescimentos nos permitindo que utilizemos os meios que serão benéficos a todos. Também nos mostra que, nascer, viver e morrer, faz-se necessário a nossa evolução e crescimento do ser humano. Precisamos nos preparar melhor, para que possamos, vivenciar  melhor a vida, e quando tivermos que voltar ao plano espiritual, façamos de maneira satisfatória e vitoriosa. Também permitindo que voltemos ao mundo espiritual, e reencarnando quantas vezes mais se fizer necessário, até que o espírito atinja sua elevação desejada. Rogando a Deus que nos ajude para que, seja direcionado a nós bençãos de paz e equilíbrio, para que se consiga voltar regressando ao mundo espiritual, diferentemente de tantas outras vezes, mas que seja vitoriosa. 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O CALCANHAR DE ÁQUILES



 Jerri Almeida

Narra à mitologia grega, que a deusa Tétis apaixonou-se por um rei humano chamado Peleu. Desse amor nasceu um menino. Todavia, a mãe percebeu que a criança havia herdado as características humanas do pai. Entristecida, Tétis passou a banhar, periodicamente o
filho nas águas do Estige, na expectativa de torná-lo invulnerável, com os qualificativos dos deuses. Certa noite, no entanto, Peleu já desconfiado das ausências de sua esposa, resolveu segui-lá. Aquela seria a última etapa, faltava somente mergulhar os calcanhares do menino, por onde ela habitualmente o segurava. Mas Peleu, sem nada saber, imaginando que sua divina esposa pudesse ter enlouquecido e que ela afogaria seu pequeno filho, avança arrancando Áquiles de seus braços.

O menino cresce e transforma-se no mais notável guerreiro. Mas Áquiles, apesar disso, possuía seus pontos frágeis: os calcanhares. Foi assim que, na guerra de Tróia, um arqueiro desastrado atingiu-lhe o calcanhar, fazendo o poderoso soldado tombar e, ali mesmo, Áquiles pereceu.

Nessa breve introdução, desejamos ressaltar que todos nós possuímos nossas vulnerabilidades. Na convivência humana esses “calcanhares” se chocam, se atritam, provocando no panorama do mundo contemporâneo, com sua cultura utilitarista, uma espécie de esvaziamento das relações.  No cerne dessa temática surge o problema da decepção com o outro que foge, determinantemente, de nossas idealizações de perfeição.

Discutindo a chamada “sociedade da decepção”, o filósofo francês Gilles Lipovetsky afirmou:



Os valores hedonistas, a sobrecarga, os ideais psicoculturais, os fluxos de informação, tudo isso deu origem a um gênero de individuo mais introvertido, mais exigente, mas também, mais vulnerável aos tentáculos da decepção. Após a “cultura do aviltamento” e a “cultura da culpabilidade” (...) temos agora o tempo das culturas da ansiedade, da frustração e da decepção.



Para ele, uma das possíveis causas que ajudam a explicar esse fenômeno contemporâneo é o enfraquecimento dos dispositivos religiosos de socialização. Apesar das religiões, conforme Gilles, não impedirem as manifestações de amarguras e os desafios humanos, elas representam, em sua versão conservadora, uma espécie de “refúgio” ou um “ponto de apoio” ou de “consolação” insubstituível.

Kardec, muito antes de Gilles, já afirmava durante a Viagem Espírita de 1862, em discurso pronunciado nas reuniões gerais em Lyon e Bordeaux que:



O homem chegou a um período em que as ciências, as artes e a indústria atingiram um limite até hoje desconhecido; se os gozos que delas tira satisfazem à vida material, deixam um vazio na alma; o homem aspira a algo melhor: sonha com melhores instituições; quer a vida, a felicidade, a igualdade, a justiça para todos. Mas, como atingir tudo isso com os vícios da sociedade e, sobretudo, com o egoísmo?



Para Kardec a imperfeição humana é a fonte geradora de múltiplos conflitos.  Ele observa, durante um banquete que lhe é oferecido na cidade de Lyon, que o conhecimento do Espiritismo não mais conduziria nem ao isolamento, nem ao desespero. Sua influência educativa já havia corrigido muitas imperfeições, levado paz a inúmeras famílias, propagando esperança e felicidade.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

“Quando a esperança desaparece, a vida termina, na realidade ou potencialmente. A esperança é um elemento intrínseco da estrutura da vida, da dinâmica do espírito do homem. Ela está intimamente ligada a outro elemento da estrutura da vida: a fé. A fé não é uma forma fraca de crença ou conhecimento; não é a fé nisto ou naquilo; a fé é a convicção sobre o que ainda não foi provado, o conhecimento da possibilidade real, a consciência da gravidez. A fé é racional quando se refere ao conhecimento do real que ainda não nasceu; ela é baseada na capacidade de conhecimento e compreensão, que penetra a superfície e vê o âmago. A fé, como a esperança, não é a previsão do futuro; é a visão do presente num estado de gravidez.
A afirmação de que a fé é certeza necessita de uma restrição. É certeza sobre a realidade da possibilidade – mas não é certeza no sentido da previsão indiscutível. A criança pode ser natimorta prematuramente; pode morrer no parto; pode morrer nas duas primeiras semanas de vida. Este é o paradoxo da fé: é a certeza do incerto. É certeza em termos da visão e compreensão do homem; não a certeza que temos do resultado final da realidade. Não precisamos de fé naquilo que é cientificamente previsível, nem tampouco pode haver no que é impossível. A fé é baseada em nossa experiência de vida, de nos transformarmos. A fé que outros podem mudar é o resultado da experiência de que posso mudar.
Existe uma distinção importante entre a fé racional e a irracional. Enquanto a fé racional é o resultado da atividade interior da pessoa, em pensamento ou sentimento, a fé irracional é a submissão a determinada coisa que se aceita como verdadeira, independentemente de sê-lo ou não. O elemento essencial em toda fé irracional é seu caráter passivo, seja o seu objeto um ídolo, um líder ou uma ideologia. Até mesmo o cientista precisa estar livre da fé irracional nas idéias tradicionais a fim de ter fé racional no poder do seu pensamento criador. Uma vez provada a sua descoberta, ele não precisa mais de fé, exceto na próxima etapa que ele estuda. Na esfera das relações humanas, ter fé em outra pessoa significa estar certo da sua essência – isto é , da confiança e imutabilidade das suas atitudes fundamentais. No mesmo sentido, podemos ter fé em nós mesmos – não na constância das nossas opiniões – mas na nossa orientação básica com relação à vida, na matriz da estrutura do nosso caráter. Essa fé é condicionada pela experiência do eu, pela nossa capacidade de dizer “eu” legitimamente, pelo sentido da nossa identidade.
A esperança é o estado de espírito que acompanha a fé. A fé não poderia ser sustentada sem o estado de espírito da esperança. A esperança não pode basear-se senão na fé.”

FROMM, Erich. A Revolução da Esperança. 5ª. Ed. Trad. Edmond Jorge. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1984. Pág. 31-32.

sábado, 14 de setembro de 2013


Clamores


Antonio Cesar Perri de Carvalho

No ambiente das searas espírita e religiosa em geral, há uma ação continuada em defesa da vida, pois nos últimos anos se amiúdam as tentativas de liberação do aborto e até da eutanásia no Brasil. Infelizmente, muitos não se dão contam que tais propostas estão definidas em alguns ideários partidários. As atividades assistenciais executadas com dedicação pelos espíritas há mais de século, hoje sofrem o influxo de legislações complementares, de normas e de pressões que tendem a inviabilizar a opção da entidade se caracterizar como filantrópica. As organizações religiosas como um todo se sentem estranguladas por tentativas de ingerências do Estado e de governos.
Há uma certa confusão entre o fato do Brasil ser um Estado laico, cabendo toda ação de repeito à diversidade religiosa, com as propostas claramente ateístas que têm embasado algumas ações políticas.
A FEB tem participado ativamente de movimentos da sociedade civil e de foros adequados que visam o respeito à vida em todas suas etapas e de eventos que defendam a diversidade religiosa e a ação social por parte de organizações religiosas.
Numa visão espírita, naturalmente somos levados a refletir no conteúdo e vaticínio de Brasil, coração do mundo, pátria do Evangelho, psicografado por Chico Xavier nos idos de 1938. O espírito Humberto de Campos comenta momentos que nos induzem a entender enganos cometidos ao longo do processo civilizatório de nosso país e, inclusive, destaca colocações e alertas dos orientadores espirituais do país. Todavia, deixa clara a destinação e a missão espiritual do país. Já no prefácio previa-se, há mais de 70 anos atrás: “[…] o Brasil terá também o seu grande momento no relógio que marca os dias da evolução da Humanidade”.
Além dessa monumental obra da lavra mediúnica de Chico Xavier, no marco inaugural do Espiritismo O livro dos espíritos, há significativas questões sobre a vida em sociedade. Especificamente da questão 783, transcrevemos: “Segue sempre marcha progressiva e lenta o aperfeiçoamento da Humanidade?” Trecho da resposta “Há o progresso regular e lento, que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto devera, Deus o sujeita, de tempos a tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma.”; e, assinalamos um trecho comentado pelo próprio Allan Kardec: “O homem não pode conservar-se indefinidamente na ignorância, porque tem de atingir a finalidade que a Providência lhe assinou. Ele se instrui pela força das coisas. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram nas ideias pouco a pouco; germinam durante séculos; depois, irrompem subitamente e produzem o desmoronamento do carunchoso edifício do passado, que deixou de estar em harmonia com as necessidades novas e com as novas aspirações.”
O Codificador desenvolve importante raciocínio em Obras Póstumas (1ª parte): “Liberdade, igualdade, fraternidade. Estas três palavras representam, por si só, o programa de toda uma ordem social que realizaria o mais absoluto progresso da Humanidade, se o princípio que elas traduzem pudesse receber integral aplicação”.
Parece-nos lícito concluir que temos compromissos com a cidadania. O Espiritismo – como “obra de educação”- se assenta na moral do Cristo, e esta se fundamenta no respeito à vida e ao próximo, na ética e na moral. Tais valores devem ser a grande bandeira para as decisões de foro íntimo e de comprometimento coletivo. A reflexão dos textos do Novo Testamento à luz do Espiritismo são sempre necessárias para compreendermos e buscarmos as novas aspirações para uma Humanidade melhor.


Antonio Cesar Perri de Carvalho é presidente da Federação Espírita Brasileira.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

DORES DA VIDA

Jerri Almeida

Nossa cultura contemporânea fez do prazer “a medida de todas as coisas” e, com isso, negou ao ser humano um sentido existencial mais profundo para as dores da vida. O cristianismo, durante séculos, produziu um modo de sofrer, ou seja, ofereceu um significado para o sofrimento. Isso produziu certo conforto, a gente não deixa de sofrer, mas o sofrimento passa a ter uma significação. No entanto, o Cristianismo também não conseguir explicar com mais detalhes e profundidade os múltiplos fatores do sofrimento humano.
As angústias essenciais do Ser necessitam de significados e, na medida em que passamos a compreender melhor os mecanismos da vida, passamos a desenvolver uma espécie de cosmovisão sobre “o existir”.  O Espiritismo desvelou os imperativos da vida, oferecendo um “modo de sofrer”, não no sentido compensatório, de sofrer hoje para ser feliz depois da morte, mas no sentido educacional, na medida em que os desafios servem, conforme observou Léon Denis, como: “...agentes do desenvolvimento humano.”
Estando as causas do sofrimento na atual experiência reencarnatória, conforme a forma que o sujeito direciona suas escolhas, seria relativamente clara a gênese de muitas aflições e dores vivenciadas. São situações onde a própria pessoa, quer por sua imprudência, irresponsabilidade, falta de reflexão e imaturidade, forja as raízes de seus sofrimentos mediatos, imediatos e/ou futuros. No entanto, a grande interrogação sempre esteve no sofrimento dos moderados, prudentes, equilibrados, reflexivos, amorosos, responsáveis, etc.
O Espiritismo veio oferecer suas explicações para esses casos nebulosos. Tratou de situar a experiência humana, à luz da reencarnação e das leis da vida, para além dos estreitos limites da existência física. Por isso, as ações humanas em um determinado espaço-tempo, repercutem positivamente ou não, conforme sua própria natureza, na plasmagem das contingências evolutivas (educacionais) que comporão as experiências do ser espiritual em sua admirável jornada em busca por si mesmo. 
Nesse sentido, o sofrimento sob qualquer aspecto, nada tem de castigo, mas funciona como um dispositivo (indutor) da vida, capaz de fazer fervilhar no mundo íntimo e consciencial, o amadurecimento que a própria vida lhe exige, face aos imperativos de seu crescimento mental e emocional. Essa explicação da filosofia espírita possui um impacto muito prático na vida cotidiana. Essa formulação poderá ajudar o indivíduo compreender que nada lhe acontece injustamente ou casuisticamente. Em tudo, por mais que tenhamos dificuldade em sabermos os detalhes no momento, há uma experiência peculiar para aquele a vivencia.
Logo, o sofrer faz parte das contingências do mundo e deveríamos ensinar para nossos filhos que isso é natural. Viver angústias e inquietações faz parte da condição do espírito humano, é “normal”, todos viverem em algum momento seus problemas, suas dores. Nem por isso as pessoas de modo geral, buscam se drogar, se desequilibram ou se deprimem. E quando o fazem isso repercute na produção de mais sofrimento! Portanto, somos os articuladores de nossa felicidade ou desdita e, diariamente estamos modelando as angulações do nosso futuro.
Também nesse aspecto a fé racional traz o seu contributo, pois ela, em tese, tranquiliza e acalma o sujeito através do nível de aclaramento que proporciona. É bem verdade que, cada pessoa, possui uma forma própria de metabolizar o conhecimento espírita, o que é muito natural. Ainda assim, é importante lembrarmos a questão 943 de O Livro dos Espíritos:

Donde o desgosto da vida, que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos?
“Efeito da ociosidade, da falta de fé e também, da ociosidade. Para aquele que usa de suas faculdades com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanto mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.” [Grifos meus]

Partindo da premissa de que a “falta de fé” é um dos fatores que conduzem a um estado de desgosto da vida e, portanto, de infelicidade,  a construção da fé racional representaria, então, um valioso suporte para o exercício consciente da paciência e resignação. Devemos lembrar, todavia, que o sentido de resignação no Espiritismo, reveste-se de um verdadeiro dinamismo. A fé racional em nenhum momento deverá refletir um estado de passividade e conformismo diante das vicissitudes da experiência humana.
A resignação dinâmica produz uma postura de equilíbrio pessoal, e de ação, na busca pelos recursos plausíveis, seja para superar ou mesmo atenuar os sofrimentos e aflições. É ultrapassar o discurso conformista do “Deus quis assim!”, assumindo uma postura de responsabilização pessoal pelo que nos acontece, direta ou indiretamente. Logo, conforme informaram os espíritos a Kardec, na questão 964 de O Livro dos Espíritos, Deus não se preocupa com cada um de nossos atos, para nos repreender ou recompensar. Ele criou Leis que regem a dinâmica da vida, na sua expressão física e espiritual. Somos felizes quando nos firmamos nessas Leis e sofremos os resultados naturais quando delas nos afastamos.
Mesmo quando não houver, nessa existência, possibilidade de uma reversão integral da problemática vivida, a exemplo do indivíduo que perde uma perna, que fica paraplégico, dentre outros, permanecerá robustamente a convicção na temporalidade dessa experiência, que é, justamente, uma condição de tempo mais ou menos breve. Seguirá o sujeito, observando os seus limites temporários, mas também suas possibilidades de auto-superação, descobrindo dentro de si mesmo, forças insuspeitadas que lá estavam latentes.