sábado, 26 de abril de 2014

Lidando com a cólera



“(...) a cólera não exclui certas qualidades do coração, mas impede se faça muito bem e pode levar à prática de muito mal. Isto deve bastar para induzir o homem a esforçar-se pela dominar. (...)” ¹

Vinícius Lousada – vlousada@hotmail.com


Por que sentimos raiva? Qual a natureza ou origem da cólera em nossa intimidade? Qual o motivo de assumirmos posturas explosivas perante as pessoas ou circunstâncias? E como podemos lidar com isso?

Essas são perguntas que deveríamos nos fazer quando identificamos no rol de nossos hábitos a repetição de atitudes encolerizadas, em que, agressivos, despejamos a raiva nos outros, encharcando-nos, por sua vez, de fluidos venenosos.
Como seres imortais, sedimentamos no psiquismo, ao longo das vidas sucessivas, uma série de conteúdos psicológicos, saberes, crenças e posturas. Conectados a uma complexa rede de relações sociais em nossos encontros com o mundo e seus desafios quotidianos desenvolvemos nossas aquisições intelectuais e morais.
A agressividade que portamos há muito, desde quando o princípio espiritual transitava na esfera do reino animal, vem sendo lapidada pouco a pouco no confronto com outros conteúdos que passaram a ser apreendidos, seja na convivência que os laços de afeto facultaram, seja no desabrochar dos raciocínios fomentados pelos empreendimentos que somos levados a engendrar com vista ao atendimento das necessidades básicas de sobrevivência.
Mas, ainda assim, trazemos uma parcela de agressividade no íntimo que se expressa pela raiva. É importante, nesse caso, que aprendamos a lidar com esse sentimento a fim de que possamos superá-lo, num processo auto-educativo, evitando acostumarmo-nos a ceder à animalidade que trazemos, como acontecem nesses acessos de raiva em que, verdadeiramente, nos bestializamos.
A percepção correta da raiva é um procedimento indispensável no caminho daquele que busca educar-se e conquistar a paz interior. “O exame profundo é o remédio mais recomendável para a raiva (...)” ². Aliás, somente podemos moldá-la convenientemente na medida em que a reconhecemos e nos ocupamos de tratá-la.
Avaliando que não estamos prontos, que somos Espíritos cuja “incompletude” é qualidade imanente à nossa vocação de ser mais, uma análise cuidadosa das nascentes de nossas emoções ajudaria muito a identificarmos o quanto de raiva ainda somos portadores.
Percebendo a sua presença, seria interessante que nos olhássemos no espelho, que enxergássemos nossa fisionomia retratada no reflexo revelado, denotando o estado de inferno pessoal em que ficamos quando a cólera está no comando.
Considerando que ela não resolve nossos problemas, ao contrário, só gera mais sofrimento, piora tudo e que também põe em risco a saúde corporal, o seu reconhecimento pode instigar forçosamente o inteligente desejo de supera-la.
É obvio que, geralmente, utilizamo-nos de mecanismos de defesa negando essa enfermidade da alma, apontando como sua causa a herança genética, ou supostos processos educativos castradores em que teríamos aprendido a violência como única linguagem possível. Porém, essencialmente não somos violentos, a violência é um estado transitório a que aderimos por decisão própria porque, como atesta o Espírito Hahnehann, todas “(...) as virtudes e todos os vícios são inerentes ao Espírito. (...)” ³.
Mais uma razão para o desejo de superação consciente da cólera: ela está enraizada em nossas imperfeições morais e, ao trabalhá-la, estamos vencendo concomitantemente o homem velho, com vistas à felicidade que galgaremos nesse aprendizado de transcendência. E o vício moral que ativa a cólera – esse estado de temporária bestialização – é justamente o orgulho ferido, expresso no mais singelo laivo de personalismo, na irritabilidade constante, no desejo de dominação e materializado nos impulsos agressivos para com o semelhante ou na direção das coisas ao redor.

Trabalhando a raiva, moldamos o nosso orgulho. Envolvendo-a em energia serena, que edifica sempre, na construção de sentimentos purificadores 4, iluminamo-nos e avançamos em espiritualidade.
Assim sendo, para tecermos um estado de alma pacificada, procedamos ao reconhecimento da cólera, admitindo-a para a seguir, contê-la com a calma, sem estruturar uma guerra íntima, mas um esforço contínuo de reformulação moral, orientando-nos com os saberes espíritas e agindo diariamente alicerçados no amor preconizado por Jesus Cristo.
Dentre as estratégias que se pode utilizar para esse objetivo, uma ferramenta útil consistiria na tentativa de treinarmos a nossa capacidade de sorrir, e, por conseqüência, de relaxarmos a face. Sorrir aliviando as tensões, rindo saudavelmente de nossas dificuldades, procurando desenvolver o bom humor e uma disposição pessoal para a felicidade.
Desse modo irradiaremos simpatia e nos condicionaremos a conter a cólera através da transformação do hábito da fúria pela prática meditação consciente.
Respirar e orar para pensar antes de falar ou reagir, consumindo a raiva como se fosse um combustível a ser desgastado pelo amor, também é um recurso extraordinário a ser tentado nesse tentame renovador.

Cada um de nós, por amor ao próximo e a si mesmo deve empenhar a sua criatividade para aprender maneiras de lidar com a cólera, superando a postura reativa das manifestações modernas do famigerado duelo e da vingança, presentes nas condutas atormentadas de nossa sociedade, tão carente de Jesus e da compreensão de onde se encontram seus verdadeiros interesses.

1- O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IX item 9.
2- NHÃT HANH, Tich. Aprendendo a lidar com a raiva. Rio de Janeiro: Sextante, 2003, p. 84.
3- O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. IX item 10.
4- XAVIER, Francisco C. O consolador. Pelo Espírito Emmanuel. 22. Ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2000, p. 110.


Texto extraído da Revista Internacional de Espiritismo – Ano LXXX – Nr. 10 – Novembro de 2005, págs. 518 e 519.

terça-feira, 15 de abril de 2014

AFINAL, OQUE É OPÇÃO SEXUAL?

















             Um menino de 13 anos, escolarizado, provavelmente sabe mais sobre sexo do que o seu bisavô de 80 anos. Nosso conhecimento sobre a sexualidade humana deu um salto estratosférico nas últimas décadas, o que, em parte, contribuiu para a melhoria da qualidade de vida pela superação de preconceitos e tabus. Ainda assim, o território da sexualidade continua habitado por incontáveis mistérios e muitas ilusões de ótica. A sociedade “liberada” sexualmente segue tropeçando em conceitos e práticas equivocados que produzem mais dores que prazeres.

Quando estaremos aptos a desfrutar e a exercer (sim, isso também gera consequências!) nossa sexualidade com a mesma naturalidade com que respiramos e nos alimentamos? Quando, enfim, nossa vida sexual se livrará da culpa que sustenta as posturas radicais, da repressão apoiada em tabus aos espasmos compulsivos?
Se você observá-los com equidistância, vai perceber: há um elo que ata o puritano ao depravado. Ambos reagem a um desconforto interior que os impede de lidar em equilíbrio com a própria energia sexual. Entre as polaridades desse continuum ficamos nós, mergulhados na dificuldade de entender e viver nossa sexualidade, perdidos entre conceitos confusos.
Não fosse assim e já teríamos descartado a expressão “opção sexual”, tão recorrente na boca de liberais e conservadores, especialmente quando o tema é homossexualidade. Afinal, o que é isso?  O que é opção sexual?

Você, leitor, saberia dizer quando e como optou por ser heterossexual? Como enfrentou o dilema de escolher entre deitar com mulheres ou com homens? E se você é homossexual, quando resolveu “orientar” sua sexualidade para ter prazer apenas com pessoas do mesmo sexo? 
Obviamente ninguém conseguiria responder com honestidade a tais questões pelo simples fato de que  - até onde alcançam os olhares da ciência - a sexualidade se apresenta não como resultante de um ato de vontade, mas uma construção lenta, e ainda misteriosa, a partir da interação provável de genes e, posteriormente, do sistema nervoso com o ambiente. A base desse edifício se consolida já na primeira infância, antes do sete anos, portanto, quando a criança ainda é inapta para avaliar e escolher.
Homossexualidade, como heterossexualidade, é condição e não opção. Nem mesmo é orientação, algo gerado sob uma influência exterior prevalente. Filhos de homossexuais (lembre-se: há homos também no casamento convencional), em sua maioria são héteros perfeitos e os homossexuais geralmente são filhos de heterossexuais plenos.
Opção sexual é expressão inadequada que serve ao preconceito e à discriminação de uma minoria. E isso só é superado quando vemos a sexualidade de cada pessoa (e não o seu comportamento) como uma expressão natural e aceitável.

Jomar Morais 

quinta-feira, 3 de abril de 2014

A EDUCAÇÃO SEXUAL na ótica Espírita.

       
           A Educação sexual aparece necessariamente relacionada à Educação moral, porque, ao contrário do que muitos pensam e praticam atualmente, ela não deve se constituir meramente de lições de anatomia e de prazer sensorial. Á prática do sexo, está associada a uma responsabilidade moral inalienável.

          É claro que, como em todos os outros campos, a canalização positiva do sexo deve em primeiro lugar partir do exemplo dos pais e ou educadores. Em segundo, o assunto deve ser objeto de conversação aberta, mas dentro de um clima de responsabilidade. Nem tabu, nem deboche são próprios para o diálogo entre educador e educando sobre essa questão. Naturalidade, oportunidade, respeito e elevação são ingredientes necessários.
          É justamente nesse ponto, que a Psicologia moderna atinge sua máxima problemática com a neutralidade moral. A maioria dos profissionais dessa área, e que exercem grande influência sobre a opinião pública, consideram o sexo como meramente fonte de prazer, admitindo como normais toda e qualquer prática, inclusive masturbação, homossexualismo, sexo oral, sexo anal, sexo grupal...
          Sabemos o quanto essas temas são polêmicos atualmente, mesmo em ambientes religiosos e até entre espíritas - coisa aliás difícil de se entender, porque certos valores morais deveriam estar claros pelo menos para aqueles que têm maior compreensão das Leis Divinas. Entretanto, é preciso esclarecê-los em um estudo sobre Educação, porque tais problemas muitas vezes aparecem desde a infância.
          Como ficou dito, o sexo é uma energia poderosa, que é melhor canalizada na formação de uma família, na troca equilibrada entre duas pessoas do sexo oposto que se amam e cujos furtos serão filhos, ou mesmo trabalhos sociais e espirituais. A lei natural é a monogamia (e a prova disso é o equilíbrio numérico entre os dois sexos no mundo).
          A energia sexual, se for gasta apenas no prazer, sem um sentimento de amor, que eleve o seu diapasão, sem responsabilidade moral e uma finalidade nobre, que garanta o equilíbrio, pode não só servir de alimento a Espíritos vampirizadores, como gerar profundos desequilíbrios naquele que a está desperdiçando e malbaratando.
          E, nesse caso, estão a prática da masturbação, do homossexualismo, do sado-masoquismo, do sexo grupal e de todas as formas de anormalidades. Ora, porque muita gente já nasce com tais tendências, alguns estudiosos modernos concluem que elas sejam naturais e que há pessoas, por exemplo, naturalmente homossexuais como há pessoas de olhos verdes e de pele vermelha ou amarela. A reencarnação nos explica que, de fato, tais tendências podem ser inatas, mas nem por isso deixam de contrariar as leis naturais. É que trazemos vícios do passado, assim como trazemos  conhecimentos e virtudes. Cabe a Educação proporcionar os meios para o indivíduo vencer suas tendências negativas. Mas o que se faz hoje é justamente incentivar todo e qualquer desequilíbrio, porque se espalham falsas teorias e justificativas que proclama que tudo é válido e moral.
          É bem verdade que se, em todos os campos da vida moral, o indivíduo tem inteira jurisdição sobre si mesmo, seu comportamento sexual é algo ainda mais íntimo. A ninguém compete julgar e condenar o próximo, nesse sentido. Lembremo-nos da inesquecível lição de Jesus: "quem estiver sem pecado, atire a primeira pedra". É por isso que também se iniciou com tanta veemência a defesa dos chamados direitos das minorias, entre os quais se incluem os que praticam o sexo fora dos padrões aceitos pela sociedade. Mas o dever de se tratar um homossexual com o respeito humano, não significa  que o homossexualismo seja conforme às leis naturais. Aliás, não só o homossexualismo é um desvio dessas leis, a heterossexualidade pode apresentar muitos outros tipos de desequilíbrio. Mas a pretexto de tolerância e benevolência para com todos, não se pode deixar de reconhecer o que é certo ou o que é errado, o que é normal ou não, o que é elevado, bom e nobre e o é que rasteiro, grosseiro e vil.
          Para uma Educação sexual saudável, além do exemplo e do diálogo, pressupõe-se que sejam estimulados no educando os seguintes valores.
          A Higiene Física e Mental.  Trata-se de respeito pelo próprio corpo, o cuidado com a saúde, com a higiene e também a consciência de que o corpo é um templo do Espírito, no qual cada um deve trabalhar para o seu progresso moral e não reduzi-lo a uma fonte inesgotável de prazer físico.  A higiene mental implica na elevação de pensamento e por isso todo aquele que se alimenta mentalmente de imagens e propósitos saudáveis, equilibrados e bons, atrairá para si afinidades nesse sentido e fugirá das atrações do abismo, que podem vir de fora ou nascer de dentro.
          O Respeito pelo Sentimento Alheio. Quando o educando aprendeu e viu desde cedo a prática do respeito mútuo,o interesse pelo bem estar do outro e o amor presidindo todas as ações, dificilmente será na fase adulta um gozador irresponsável, indiferente às consequências de suas relações afetivas.
          O Autodomínio. Também aquele que se viu desde cedo estimulado a controlar seus desejos, que não vê seus mínimos caprichos atendidos e cultiva a autodisciplina (que não é a mesma coisa que a disciplina imposta por outros e, sim uns disciplina despertada pela influência dos pais e ou educadores, mas que cada um vai exercer dentro de si), já na adolescência saberá controlar seus desejos e orientar seus impulsos.
*************************************************************************************
"A Educação Segundo o Espiritismo - Edições FEESP -Autora: DORA INCONTRI . Pós-doutoranda em História e Filosofia da Educação. Traduziu para o português os textos pedagógicos de Allan Kardec. Possui duas obras psicografadas: Conforto Espírita e Imortais da Poesia.
    .