quarta-feira, 21 de agosto de 2013

A POLÍTICA ELEITOREIRA ANTE A POLÍTICA DO EVANGELHO



Nas proximidades dos debates para eleições políticas, "esquenta" a discussão sobre o tema, se o espírita deve ou não participar da
política partidária. Sobre isso, um amigo me confidenciou que diretores
de uma federativa têm feito convites, aos espíritas, para o engajamento
na militância política. (pasmem!) Por lógica, essa tolice não mereceria
nossos comentários, pois já escrevemos muito sobre a questão. Todavia,
somos forçados a analisar essas insistentes posturas, totalmente
incompatíveis com o projeto Espírita na Terra. A Doutrina Espírita não
estimula o engajamento em idéias e políticas partidárias. Não coloca
sua tribuna a serviço da propaganda política de candidatos, de partidos
ou de movimentos políticos.

Em que pese a frase de um conhecido líder espírita, que proclama que "o problema não é de como o espírita entra na política, mas de como dela
sai", o espírita, se estiver vinculado a alguma agremiação partidária,
se deseja concorrer como candidato a cargo eletivo, tem total liberdade
de ação, mas que atue bem longe dos ambientes espíritas, para que tudo
que fizer ou disser, dentro da Instituição Espírita, não venha a ter
uma conotação de atitude de disfarçada intenção, visando a conquistar
os votos de seus confrades.

No Espiritismo, a cautela é recomendável, tanto quanto a discussão; não pode haver preconceitos. Todavia, em se discutindo políticas sociais, é
inadmissível trazer, para dentro dos Centros ou Instituições Espíritas,
a política partidária, embora, como cidadão, cada espírita tem a
liberdade de militar no universo fragmentado das ideologias políticas.
Até porque, o Espiritismo não é fragmento da política partidária, e
nem, tampouco, envolve-se com grupos políticos sectários, que utilizam
meios incoerentes com os fins de poder.

É muito importante distinguir a política terrena, da política do Cristo. O espírita, quando trabalha pela erradicação da miséria e da exclusão
social do ser humano, está adotando a política do Evangelho, ou seja, a
sua política, nesse sentido, é a da caridade sem fronteiras para todas
as classes. A política do legítimo espírita é a favor do ser humano e
de seu crescimento espiritual. Não se submete e não se omite diante do
poder político, e nem, tampouco, assume o lugar de oposição ou de
situação. Explica, Emmanuel, que "o discípulo sincero do Evangelho não
necessita respirar o clima da política administrativa do mundo para
cumprir o ministério que lhe é cometido. O Governador da Terra, entre
nós, para atender aos objetivos da política do amor, representou, antes
de tudo, os interesses de Deus junto do coração humano, sem necessidade
de portarias e decretos, respeitáveis, embora". (1)

É inadmissível a utilização da tribuna espírita, como palanque de propaganda política. O Espiritismo não pactua com superficiais e
transitórios interesses terrenos. Por isso, ninguém pode deixar-se
escravizar à procura de favores de parlamentares, a ponto de, este,
exercer infausta influência nos conceitos espíritas. Outra hipocrisia é
um espírita nos palanques, implorando votos, qual mendigo, com sofismas
e simulação de modéstia, de pobreza, de humildade, de desprendimento,
de tolerância, etc., com finalidade demagógica, exaltando suas próprias
"virtudes" e suas "obras" beneficentes. O bom senso nos sussurra que o
ideal seria se esses "espíritas" (!?), que mendigam votos, optassem por
outro credo, para que lhes seja assegurada a não-contaminação dessa
infecciosa politicagem em nossas hostes, até porque, "não temos
necessidade absoluta de representantes oficiais do Espiritismo em setor
algum da política humana".(2)

Pela transformação de comportamento individual, lutando pelo ideal do bem, em nome do Evangelho, os espíritas não estão alheios à Política;
engana-se quem pensa o contrário. Os espíritas honestos, fieis à
família e aos compromissos morais, são, integralmente, cidadãos ativos,
que exercem o direito e/ou obrigação (depende do ponto de vista) de
votar; porém, sem vínculos com as querelas e questiúnculas partidárias.

E, mais ainda, "iniciados na luz da Revelação Nova, os espiritistas cristãos possuem patrimônios de entendimento muito acima da compreensão
normal dos homens encarnados." (3) Por isso mesmo, sabem, à saciedade,
que "a missão da doutrina é consolar e instruir, em Jesus, para que
todos mobilizem as suas possibilidades divinas no caminho da vida.
Trocá-la, por um lugar no banquete dos Estados, é inverter o valor dos
ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras em face
da necessidade de renovação de todas as fórmulas do homem na lei do
progresso universal." (4)

É oportuníssimo lembrar que, nas pequeninas concessões, vamos descaracterizando o projeto da Terceira Revelação. Urge que façamos uma
profunda distinção entre Espiritismo e Política. É bem verdade que
somos políticos desde que nascemos e vivemos em sociedade, sim, e daí?
A Doutrina Espírita não poderá, em tempo algum, ser veículo de
especulação das ambições pessoais, nesse campo. Se o mundo gira em
função de políticas econômicas, administrativas e sociais, não há como
tolerar militância política dentro das hostes espíritas.

Emmanuel nos comprova que não se sustentam as teses simplistas de que só com a nossa participação efetiva nos processos políticos, ao nosso alcance,
ajudaremos a melhorar o mundo. Recordemos que Jesus cogitou muito da
melhora da criatura em si. Não nos consta que Ele tivesse aberto
qualquer processo político-partidário contra o poder constituído à
época. Nossa conduta apolítica não deve ser encarada como conformismo.
Pelo contrário, essa atitude é sinonímia de paciência operosa, que
trabalha sempre para melhorar as situações e cooperar com aqueles que
recebem a responsabilidade da administração de nossos interesses
públicos, e PONTO FINAL.



Jorge Hessen

Nenhum comentário:

Postar um comentário