'' Homossexualidade analisada pela ótica de uma pessoa espírita.
Tenho uma postura que pode chocar alguns. Sou favorável ao contrato civil de união entre pessoas do mesmo sexo. Procurarei justificar minha posição nas linhas abaixo.
Com a lei da união civil entre pessoas do mesmo sexo uma união longa e estável de um "casal" homossexual seria reconhecida como uma sociedade civil gerando direitos legais tais como plano de saúde, pensão, herança... Isso não propicia e nem promove uma possível perversão, mas reconhece uma situação que existe de fato.
Todos sofremos quando assistimos cenas de discriminação em relação ás minorias. Temos horror daqueles que se julgam superiores a seus empregados e por isso precisam de um elevador exclusivo. Não entendo como estes seres superiores comem a comida preparada por pessoas com a qual não podem nem sequer dividir um elevador sob o risco de subversão da hierarquia social.
Quando nos defrontamos com uma cena de discriminação racial somos tomados de uma fúria politicamente correta. A mesma fúria se torna verde quando imaginamos a crueldade com animais para o simples prazer de se obter o mais belo casaco de peles ou para garantir que uma determinada maquiagem não é tóxica para o olho humano.
Só que não são apenas essas as cruéis discriminações que presenciamos em nossa sociedade. Discriminamos o feio, o magérrimo, o gordo. Discriminamos o pobre e o ignorante. Aceitamos apenas os nossos semelhantes. Aqueles que nos representem em uma espécie de espelho mágico dos seletos.
Proteger os animais e a mulheres são guerras “fashion”, chiques. Esta postura nos faz aceitos nas altas rodas. Se defendermos a união civil entre homossexuais em um ambiente que se diz familiar, seremos taxados de perversores da sexualidade humana, de desencaminhadores de indecisos.
Ora, ninguém passa a desejar fisicamente pessoas do mesmo sexo por imposição. O desejo sexual pode até ser reprimido em sua intensidade ou oportunidade. Agora, modificar sua qualificação, modificar a natureza do objeto que desperta esse desejo, isso não é uma possibilidade sujeita à simples vontade e decisão. O gosto pessoal é fruto de uma característica íntima, transcendente e intensa.
As pessoas não optam por serem homossexuais, elas o são. Nascem assim.
Imaginem um de nós que fosse fruto de um inusitado transplante total de corpo, uma experiência fantástica da ciência do faz de conta, e que acordasse em uma manhã qualquer, em um corpo do sexo oposto ao que utilizava. Nesta circunstância, estaríamos ainda impregnados de vivas impressões do corpo anterior e não seríamos capazes de mudar nosso foco de desejo sexual. Esta situação implicaria em uma transição instantânea, o que é um grande desafio. Portanto, seríamos, sim, de uma hora para outra, homossexuais.
Se, temos a nossa identificação sexual atual tão forte e nos gabamos disso, como se fosse um mérito, o que aconteceria se reencarnássemos em um corpo do sexo oposto? Certamente seríamos homossexuais. Quem garante que não passaremos por uma experiência assim um dia?
Ah! Diriam os pseudotolerantes:
- Isso não acontece, pois a homossexualidade se trata de punição “cármica” para quem usou mal a sexualidade em vidas pretéritas.
E quem usou mal do amor fraternal que deveria distribuir e discriminou seus irmãos homossexuais? Será que para correção desse equívoco, a experiência em um corpo discrepante em relação á sua identificação sexual atual, não propiciaria uma ótima oportunidade?
Se retirarmos do pool de dores morais que os homossexuais sofrem aquelas oriundas de nossa intolerância, estaremos exercendo a caridade cristã que permitirá que, eles, ao carregarem uma carga menor, consigam chegar mais longe.
A homossexualidade é descrita por Freud como conseqüência de uma identificação sexual inadequada por ausência da figura paterna ou por essa figura, se presente, ser fraca, dominada ou inexpressiva.
Mas nem sempre essa premissa está presente. Uma família com características predisponentes á construção de personalidades homossexuais pode assistir ao crescimento de crianças que se tornem adultos heterossexuais. Na realidade isso é o que acontece na maioria das vezes.
Temos, portanto, um componente ambiental, um emocional, um biológico e um espiritual envolvidos no complexo desenvolvimento de uma personalidade homossexual. Não acredito que se trate sempre de obsessão como querem muitos dos pseudotolerantes.
A obsessão só explica o aprofundamento de características já presentes nos indivíduos, ainda que latentes. Não é por sintonia que os obsessores agem? Nenhum obsessor é capaz de fazer uma mulher desejar outra, a não ser que ela já tenha, em si, trazido a tendência homossexual, o que abre as portas para obsessores afins. Existem obsessores de todos os matizes, conforme o número de seres humanos diferentes entre si.
A questão espiritual é importante nesta problemática. Um espírito ainda bastante identificado com as qualidades femininas vivendo em um copo masculino e vice-versa.
Outra forma de pseudotolerância é quando taxamos todos homossexuais de ex-perversos. Ou seja, estão colhendo os frutos de uma sexualidade transviada em encarnações anteriores. Sabemos que isto pode acontecer, em alguns casos, mas, se generalizamos, estamos construindo a estrutura básica dos preconceitos.
O que eu acredito que explica de forma mais fiel a situação é uma identificação intensa do espírito com o gênero sexual em que viveu na terra por muitas oportunidades, em geral seqüenciais. Em um determinado momento deve ser feita a transição para um corpo do sexo oposto com objetivo de possibilitar àquele espírito aprendizados mais próprios do outro gênero.
Quando o espírito já alcançou um grau de desmaterialização maior, ele consegue viver sua sexualidade conforme o corpo que recebe. Vemos muitos homens femininos e mulheres masculinas que não são homossexuais.
Se ainda está muito ligado ás experiências anteriores mantém o padrão que apresentava nestas outras oportunidades. Ele se sente prisioneiro em um corpo inadequado, estranho, impróprio.
Muitos de nós que nos vangloriamos de sermos “machos” ou “fêmeas” exemplares viveremos experiências semelhantes, no momento em que a transição se fizer compulsória.
Alguns homossexuais são verdadeiros missionários, enviados á terra para lutarem contra os preconceitos e para dignificarem seus irmãos homossexuais que ainda encontram-se perdidos na promiscuidade sexual. Muitas vezes isso se deve às intensas e profundas distorções de auto-imagem e auto-estima que a interação com uma comunidade preconceituosa geram.
Quando aceitamos o homossexual com a condição de que ele não pratique sua opção sexual, os estamos condenando á solidão. Quais de nós abriria mão de sua vida sexual de forma definitiva, no grau de evolução em que nos encontramos atualmente, em função de uma tese? Ou de um dogma? Apenas alguns ....
Qual o prejuízo que essa prática gera a sociedade?
É claro que não estamos falando de promiscuidade. Alguns homossexuais são promíscuos, e isso é um erro. Ser homossexual e praticar a relação homossexual com parceiros selecionados e de forma segura não pode ser considerado um pecado. É uma prática condizente com as necessidades físicas do ser humano.
O heterossexual promíscuo está errado, a mulher casada que mantém relação sexual com seu marido em troca de benefícios financeiros é prostituta. O heterossexual desleal também está em pecado. Se alguém assumiu um compromisso com um determinado parceiro e foge ao compromisso de forma desonesta, ele peca.
Trair não é um ato físico. Trair é descumprir um acordo. Se um casal hetero ou homossexual não respeita um acordo consensual feito previamente, eles estão sendo desleais e anticristãos. Se existe uma situação nova que impede o cumprimento do acordo inicial, este deve ser revisto de forma clara e até desfeito, se for o caso.
O ideal é que tenhamos um único parceiro em toda a nossa vida. Se tivermos a benção e a sabedoria de acharmos um par compatível com nossas expectativas e possibilidades podemos viver essa situação ideal. Só que neste mundo ela ainda é rara.
Estaremos todos em um grau maior de aproximação com a Divindade no momento em que tivermos a condição de praticar o que a Bíblia propõe, em termos de sexualidade, de forma natural, automática, plena.
Pessoas que tiveram inúmeros parceiros sexuais são aquelas que ainda não acertaram em sua busca. Ninguém tem o direito de tirar as esperanças de um irmão sedento de felicidade. É claro que a medida em que evoluímos, a nossa felicidade passa a depender mais de nós mesmos do que do objeto de nossa afeição ou de conquistas materiais. Mas ainda estamos na terra e não no paraíso.
Se ainda somos dominados por impulsos animais e estes serão vencidos por nossa evolução, creio que o processo, para ser bem sucedido envolve um caminhar conjunto e solidário.
Sem dúvida, quando eu me identificar menos com as necessidades materiais talvez eu possa entender a possibilidade de sublimação do desejo sexual de forma não perniciosa. Por enquanto, quando penso nisso, lembro-me dos pedófilos escondidos em uniformes respeitáveis.
A franqueza será sempre mais saudável que a dissimulação. Melhor um homossexual assumido do que um pseudo-sublimado corruptor e ocultado atrás de uma respeitabilidade fictícia.
Sei que um dia eu serei vencedora na luta pela perfeição, não sei se chegarei lá antes ou depois dos homossexuais que conheço. Mas isso não faz diferença....Estamos caminhando e é o que importa.
Amarmos ao próximo como a nós mesmos significa aceitar as opções e características individuais. Não exigir de ninguém o que não seríamos capazes de fazer. Quem de nós é capaz de abrir mão de sua vida sexual? Quem é livre do pecado e tem condição de atirar a primeira pedra?
Giselle Fachetti Machado.
Giselle Fachetti Machado (Goiânia/GO)
Médica Ginecologista e Obstetra. Graduada pela Faculdade de Medicina da UFG e, Residência médica e especialização em Colposcopia no HC da UFMG. É responsável pelo Serviço de Colposcopia do Laboratório Atalaia de Goiânia. É membro da Comunidade Espírita Ramatís, em Goiânia e atuante no movimento em Defesa da Vida e na AME Goiás (Associação Médico Espírita). Nasceu em 20/05/1962 em Cianorte, no Paraná. Reside em Goiânia desde os 6 anos de idade. Oriunda de família espírita sendo que seu avö Osmany Coelho e Silva foi pesquisador espírita na década de 1940 no Rio de Janeiro.