segunda-feira, 22 de outubro de 2012


As razões dessa história

Galeria de Valois, no Palais Royal, local de lançamento de O Livros dos Espíritos em 1857.

Por que o Espiritismo praticamente desapareceu na França e se expandiu tanto no Brasil?
Sendo um movimento que teve tanta repercussão em sua época e nas décadas seguintes, por que é sistematicamente ignorado pela historiografia contemporânea?
Por que o Espiritismo não é citado nem reconhecido como um dos capítulos mais críticos da história do Cristianismo?
Como explicar tantas diferenças de concepção doutrinária e múltiplas tendências no Movimento Espírita?
Quais são as raízes ideológicas do Espiritismo e por que a doutrina ainda sofre tantas resistências no seu aspecto moral, inclusive entre os espíritas?
Que nomes são verdadeiramente significativos e inovadores na História do Movimento Espírita?
Discutir e tentar responder essas perguntas são os principais objetivos deste livro, não economizando para tanto, argumentos, fatos e uma vasta documentação histórica.
Desde 1926, com a publicação do clássico The History of Spiritualism, de Sir Artur Conan Doyle, não tínhamos um relato tão amplo e atualizado sobre os eventos históricos do Espiritismo e das intensas transformações ocorridas no Movimento Espírita após o desencarne de Allan Kardec, em 1869.
Mesmo assim, não só a comunidade espírita e espiritualista internacional, mas também o universo acadêmico das ciências humanas, reclamavam a falta de um trabalho que fosse ao mesmo tempo abrangente e síntese historiográfica, preenchendo o enorme vácuo deixado pelo célebre escritor inglês.
Como o próprio autor afirma em sua introdução, este estudo está longe de ser a obra definitiva sobre o assunto, mas certamente é, até agora, a continuidade de uma construção histórica e uma boa oportunidade para compreendermos o passado, o presente e o futuro do Espiritismo.

O que deve ser a história do Espiritismo


“A propósito dessa história, sobre a qual dissemos algumas palavras, várias pessoas nos perguntaram o que compreenderia ela e, a propósito, nos enviaram diversos relatos de manifestações. Aos que pensaram assim trazer uma pedra ao edifício, agradecemos a intenção, mas diremos que se trata de algo mais sério que um catálogo de fenômenos espíritas, encontradiço em muitas obras.
Tendo que se destacar o Espiritismo nos fastos da humanidade, será interessante para as gerações futuras saber porque meios ter-se-á ele se estabelecido. Será, pois, a história das peripécias que tiverem assinalado os seus primeiros passos; das lutas que tiver enfrentado; dos entraves que lhe terão oposto; de sua marcha progressiva no mundo inteiro.
O verdadeiro mérito é modesto e não busca fazer-se valer.
É preciso que a humanidade conheça os nomes dos primeiros pioneiros da obra, daqueles cuja abnegação e devotamento merecerão ser inscritos em seus anais; das cidades que marcharam na vanguarda; dos que sofreram pela causa, a fim de que os abençoem; e dos que fizeram sofrer, a fim de que orem, para que sejam perdoados; numa palavra, de seus amigos dedicados e de seus inimigos confessos ou ocultos.
É preciso que a intriga e a ambição não usurpem o lugar que lhes pertence, nem um reconhecimento e uma honra que lhes não são devidos. Se há Judas, devem ser desmascarados. Uma parte que não será menos importante é a das revelações que, seguidamente, anunciaram todas as fases dessa nova era e os acontecimentos de toda a ordem, que as acompanharam.
Aos que achassem a tarefa presunçosa, diremos que não temos outro mérito senão o de possuir, por nossa posição excepcional, documentos que não pertencem a ninguém e que estão ao abrigo de quaisquer eventualidades; que, incontestavelmente, estando o Espiritismo sendo chamado a desempenhar um grande papel na História, importa que seu papel não seja desnaturado, e opor uma história autêntica às histórias apócrifas que o interesse pessoal poderia fabricar.
Quando aparecerá ela?
Não será tão cedo e talvez não em nossa encarnação, pois não se destina a satisfazer a curiosidade do momento. Se dela falamos por antecipação, é para que ninguém se equivoque quanto ao seu objetivo e seja anotada a nossa intenção. Aliás, o Espiritismo está em começo e muitas outras coisas terão passado até lá. Então, é preciso esperar que cada um tenha tomado o seu lugar, certo ou errado.”
Allan Kardec - Revista Espírita – ANO V, outubro de 1862

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