quarta-feira, 25 de junho de 2025
ERRO E PUNIÇÃO
(Livro TORMENTOS DA OBSESSÃO DIVALDO PEREIRA FRANCO DITADO PELO
ESPÍRITO MANOEL FHILOMENO DE MIRANDA).
Em nossas reuniões habituais com amigos
afeiçoados ao dever, não poucas vezes direcionamos as conversações para as
questões que dizem respeito àjustiça humana e à justiça divina, assunto
palpitante que a todos nos interessa. Erro e punição, culpa e castigo, dolo e
cobrança, fazem parte dos temas que reservamos para análise e debate,
considerando o processo de evolução de cada indivíduo em particular e da
coletividade em geral. Muito interessado na problemática obsessiva, di ante das
ocorrências do cotidiano terrestre, chama-me a atenção a grave interferência dos
desencarna dos no comportamento dos homens. As manchetes sensacionalistas e
estarrecedoras, apresentadas pelos periódicos da grande imprensa e o perturbador
noticiário da mídia televisiva com espalhafato e pavor, revelando algumas
expressões de sadomasoquismo dos seus divulgadores, na maneira de apresentar as
tragédias e desgraças da atualidade; os comentários em torno da violência,
gerando mais indignação e revolta do que propondo soluções, vêm-me despertando
crescente sentimento de consternação pelas criaturas, acrescido do lamentável
desconhecimento das variadas psicopatologiaS de que são vítimas, assim como das
obsessões de que se fazem servas. Comentando com amigos dedicados aos estudos
sociológicos, psicológicos e penalógicos em nossa Esfera de ação, aguardei
oportunidade própria para auscultar nobre especialista nessas áreas, com obje
tivo de esclarecer-me, ao tempo em que pudesse ampliar informações e estudos
junto aos caros leitores encarnados, igualmente dedicados às terapias preventiva
e curadora dessa enfermidade epidêmica e ultriz. Nesse estado de espírito,
oportunamente fui convidado, por afeiçoado servidor de nossa comunidade, para um
encontro íntimo com o venerável Espírito Dr. Bezerra de Menezes, numa das suas
estâncias entre nós, cuja dedicação à Humanidade, na condição de desencarnadO,
se aproximava de um século de ininterrupto humanitarismO, em labor de caridade e
iluminação da consciência terrestre. A reunião fora reservada para pequeno grupo
de pesquisadores das terapêuticas próprias para a criminalidade e suas
conseqüências entre os seres humanos reencarnados, havendo sido convidados ape
nas aqueles dedicados ao importante mister. Em uma área ao ar livre, reservada a
tertúlias íntimas realizadas no Nosocômio, que fora programado para obsidiados
que faliram nos compromissos terrestres, e que desencarnaram sob o guante dos
transtornos psíquicos dessa natureza, teve lugar o encontro abençoado. Erguido,
graças aos esforços e sacrifícios do emi nente Espírito Eurípedes Barsanulfo, na
década de 1930 a 1940, aquele Sanatório passou a recolher desde então as vítimas
da própria incúria, tornando-se um laboratório vivo e pulsante para a análise
profunda das alienações espirituais. O missionário sacramentano havia constatado
ser expressivo o número de almas falidas nos compromissos relevantes, após
haverem recebido as lu zes do Consolador, e que retornavam à pátria espiritual
em lamentável estado de desequilíbrio, sofrendo sem consolo na erraticidade
inferior. Movido pela compaixão que o caracteriza, empenhou-se e conseguiu
sensibilizar uma expressiva equipe de trabalhadores espirituais dedicados à
psiquiatria, para o socorro a esses náufragos da ilusão e do desrespeito às
soberanas leis da Vida, credores de misericórdia e amparo. Médiuns levianos, que
desrespeitaram o mandato de que se fizeram portadores; divulgadores
descompromissados com a responsabilidade do esclarecimento espiritual;
servidores que malograram na exe cução de graves tarefas da beneficência;
escritores equipados de instrumentos culturais que deveriam plasmar imagens
dignificadoras e que descambaram para as discussões estéreis e as agressões
injustificáveis; corações que se responsabilizaram pela edificação da honra em
si mesmos, abraçando a fé renovadora, e delinqüiram; mercenários da carida de
bela e pura; agentes da simonia no Cristianismo restaurado ali se encontravam
recolhidos, muitos deles após haverem naufragado na experiência carnal, por não
terem suportado as pressões dos Espíritos vingadores, inclementes perseguidores
aos quais deveriam conquistar, ao invés de se lhes tornarem vítimas, ex
traviando-se da estrada do reto dever sob sua injunção perversa... Normalmente,
naquele Instituto de saúde espiri tual, se realizavam encontros esclarecedores,
quando se analisavam as desditosas experiências dos seus pacientes. Vezes
outras, candidatos à reencarnação com ta refas definidas na mediunidade
estagiavam nos seus pavilhões, observando os companheiros que se iludiram e
foram vencidos, ou escutando-os durante suas catarses significativas ao
despertar da consciência, dando-se conta do prejuízo que se causaram a si
mesmos, assim como aos outros, que arrastaram na sua vertiginosa alucinação.
Verdadeiro Hospital-Escola, constitui um brado enérgico de advertência para os
viajores do carro orgânico, que se comprometeram com as atividades de
enobrecimento e de amor. Foi, portanto, em agradável recanto arborizado, em
noite transparente e coroada de estrelas, clareada por diáfana e ignota luz, que
ouvimos o Apóstolo da caridade entretecendo considerações em torno do erro e da
punição, que logo o segue. Já conhecido, e partícipe de outros cometimentos, fui
recebido com o seu proverbial carinho e eloqüente sabedoria, qual sucedera com
os demais mem bros do grupo atencioso. Após breves instantes de saudações
afetuosas e palavras introdutórias a respeito do tema, o venerável Mentor
elucidou: — A problemática do comportamento moral do ser humano encontra-se
relacionada com o seu nível de progresso espiritual. “Por essa razão, Jesus
acentuou que mais se pedirá àquele a quem mais se deu, considerando-se o grau de
responsabilidade pessoal, em razão dos fa tores predisponentes e preponderantes
para a con duta. Cada indivíduo é a história viva dos seus atos passados. A soma
das suas experiências modela lhe o caráter, as aspirações, o conhecimento e a
respon sabilidade moral. Invariavelmente, ao lado das conquistas significativas
conseguidas em cada etapa reencarnacionista, não raro, gravames e quedas tur vam
a pureza dos seus triunfos, constituindo-lhe empecilhos para avanços mais
expressivos.’ Soprava uma brisa levemente perfumada, enquanto ele silenciou por
breves segundos, para logo prosseguir: Em razão dessa atitude, renascem os
Espíritos no clima moral a que fazem jus, nos grupos familiares compatíveis com
as suas necessidades, portadores de compromissos próprios para o desenvolvimento
dos valores éticos e morais relevantes. Não podendo eliminar as causas
precedentes, de alguma forma fazem-se acompanhar por afetos ou adversários que
se lhes permanecem vinculados à economia evolutiva. É certo que nunca falta, a
Espírito algum, o divino amparo, a inspiração e os meios hábeis para o êxito,
mas, muitos deles, logo despertam no corpo e atin gem a idade da razão, são
atraidos de retorno aos sítios de onde se deveriam evadir e às viciações que
lhes cumpre vencer... “As tendências inatas, que são reflexos dos com promissos
vividos, impelem-nos para as condutas que lhes parecem mais agradáveis e que não
lhes exigem esforços para superar. As conexões psíqui cas, por afinidade,
facilitam o intercâmbio com os desafetos da retaguarda, e sem o necessário
empenho que, às vezes, impõe sacrifício e renúncia, fazem-nos tombar nas
urdiduras bem estabelecidas para vencê-los, derrotá-los no empreendimento que
deveria ser libertador.” Novamente silenciou, e olhando para a grande e
significativa construção hospitalar, com iniludível compaixão pelos seus
internados, deu prosseguimen to: — A justiça está ínsita em a natureza, e o
desenvolvimento moral do ser amplia-lhe os conteúdos sublimes na consciência. A
aplicação dos códigos da justiça na Terra vem-se dando conforme o grau de
responsabilidade humana e o seu aprimoramento moral. Das grotescas e impiedosas
punições do bar barismo e da Idade Média, para a moderna visão da ciência da
Penalogia, houve uma identificação maior da mente humana com a justiça divina,
lentamente incorporada aos códigos legais terrestres. Ainda se está longe de uma
justiça saudável e igualitária para todos, não obstante, já se pensa em
diretrizes humanitárias a serem utilizadas, dignificando o delinqüen te antes
que apenas o punindo. Isso porque o conceito sobre a justiça de Deus, mediante a
evolução do pensamento e da consciência, elimina a arbitrari edade e a crueldade
que Lhe eram atribuídas, a fim de apresentá-lO como misericórdia e amor, que
oferecem métodos de reeducação construtiva e terapeu tica para todos os males,
conforme se detecta na con ceituação atual da doutrina da reencarnação. “Quase
sempre, quando se pensa em justiça, imediatamente ocorre o pensamento em torno
do componente da punição, como se a sua fosse a finali dade do castigo, e jamais
da equanimidade, da pre servação da ordem e do dever. Tão associado tem-lhe
estado esse reflexo, que se confunde o seu ministério de preservar o equilíbrio
do indivíduo, da massa e das nações, mediante medidas coercitivas da liberdade,
ao lado de recessões, embargos de alimentos e remédios, e dilacerações físicas,
psicológicas e morais destruidoras do sentido da vida. “Um estudo profundo, à
luz da psicologia, faculta identificar-se no delinqüente um enfermo emocional,
cujas raízes do desequilíbrio se encontram nas experiências transatas das
existências. Culpa, remor so, desarmonia interior, desamor, que foram
vivenciados, refletem-se em forma de comportamentos transtornados e atitudes
infelizes que desbordam nas vá rias expressões do crime. Conseqüentemente, assis
tência específica, na mesma área psicológica, deveria ser utilizada para
recuperar o paciente infeliz e conceder-lhe o direito à reabilitação, ao resgate
do erro perante a vítima e a sociedade.” Pensativo, como se estivesse melhor
organizando a argumentação, fez nova pausa, logo dando prosseguimento:- Além
desses fatores psicológicos, outros mais, quando deficientes contribuem para o
erro da criatura humana, quais sejam: a educação no lar e a convivência
familiar, o meio social, os recursos financeiros e o trabalho, a recreação e a
saúde, que desempenham papel de infinita importância na construção da
personalidade e no desenvolvimento dos sentimentos. Em uma sociedade justa, há
predominância dos valores de que se desincumbem airosamente os governantes,
dando conta das responsabilidades que assumiram perante o povo, sempre
vigilantes no que diz respeito aos deveres em relação às massas. Infelizmente,
ainda não viceja genericamente essa consciência, o que responde pelos altos
índices da vio lência e da criminalidade, em razão das fugas espetaculares pelas
drogas químicas, pela anarquia, pelo desbordar das paixões a que se entregam os
indivíduos mais frágeis moralmente. Isso faculta-lhes a eventualidade da prática
do delito, conforme se pode constatar na literatura do passado e do presente. Fe
dor Dostoiewski, na sua famosa obra Crime e Castigo, bem descreve os tormentos
da personagem Raskolnikof que, apesar de ser um homem honrado e portador de
sentimentos nobres, terminou por cometer atrocidades sem limites contra as suas
vítimas, a fim de apropriar-se dos valores que possuíam, particularmente da
atormentada usurária, que ele passou a detestar. Diversos autores, como Victor
Hugo, Charles Dickens, Arthur Müller e muitos outros, utilizan do-se deste fator
eventual, apresentam criminosos que se tornam simpáticos aos seus leitores,
porque foram levados ao crime por circunstâncias ocasionais, desde que,
portadores de elevados princípios, viram-se na contingência de errar, recebendo
em troca punições perversas e injustas. “O erro é sombra que acompanha aquele
que o pratica até que se dilua mediante a luz clara da reparação. Providenciados
os meios hábeis para a renovação do equivocado, reeducando-o para a convivência
social, é justo se lhe conceda o ensejo de prosseguir construindo o futuro,
enquanto se sente liberado do desequilíbrio praticado.” A fim de conceder-nos
ensejo de bem aprofundar reflexões, o amorável amigo fez uma nova pausa, e
concluiu: — Dia virá em que os estudiosos do comportamento criminoso da criatura
humana perceberão, além desses fatores que levam à delinqüência, um outro muito
mais grave e sutil, que necessita de profundos estudos, a fim de que se criem
novos códigos de justiça para os infratores colhidos por essa inci dência.
Referimo-nos à obsessão, quando Espíritos adversários, desejando
interromper-lhes a marcha evolutiva, induzem-nos à prática de delitos de toda
ordem, tornando-se co-autores de incontáveis agressões criminosas, que muitas
vezes redundam em acontecimentos infaustos, irreversíveis. Traba lhando
lentamente o campo mental das vítimas com as quais se hospedam psiquicamente,
terminam por inspirar-lhes sentimentos vis, armando-as contra aqueles que, por
uma ou outra circunstância, se lhes tornam inimigos, com ou sem razão.
Transformando-se em adversários incansáveis, obstinada-mente as perseguem ou as
enfrentam em combates de violência, que terminam em tragédias... Sob outro
aspecto, esses Espíritos utilizam-se daqueles com os quais têm sintonia mental e
moral, para se desforçarem de quem os prejudicou anteriormente, e agora não são
alcançados pela sua sordidez nem perversidade, praticando homicídios espirituais
hediondos. As obsessões, nessa área, são muito expressivas. Seria o caso de
examinar-se se a personagem de Dostoiewski não teria sido vítima de algum
adversário desencarnado pessoal ou se não houvera conseguido sinton izar com
aqueles que se compraziam em odiar todos quantos lhe tom baram nas cruas
perversidades! “O erro, em si mesmo, gera um clima psíquico nefasto, que atrai
Espíritos semelhantes ao que se compromete moralmente, passando a manter siste
mática sintonia e comércio emocional continuado. O castigo geral aplicado a
todos quantos se fazem vítimas da criminalidade, sem diferença de situação ou
conteúdo espiritual, torna-se injusto e mesmo odiento, transferindo-se para o
mundo espiritual os efeitos desses conúbios desastrosos. “A Divindade, porém,
vela, e as Suas Leis sábias alcançam inapelavelmente todos os seres da Criação,
facultando o processo evolutivo, mediante o qual será possível a felicidade que
se anela. “Cuidemo-nos, todos nós, de nos preservar do mal, suplicando o divino
socorro, conforme propôs o incomparável Mestre, na Sua Oração dominical,
buscando-Lhe o amparo e a inspiração, a fim de podermos transitar com equilíbrio
pelos difíceis caminhos da ascensão espiritual.” Silenciou, o bondoso amigo,
deixando-nos material expressivo para reflexão. Despedindo-se momentaneamente,
prometeu dar prosseguimento ao tema fascinante que é a obsessão, nesse aspecto,
quase desconhecida.
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