SUBJUGAÇÃO ININTERRUPTA SOB O GUANTE DE UMA REENCARNAÇÃO?...
Jorge Hessen
Mordake, o homem de dois rostos |
Por efeito das buliçosas narrativas sobre as deformações
físicas, deparamos com eventos gritantes, e ao mesmo
tempo melancólicos, de pessoas que (re)nasceram
com os mais singulares tipos de aberrações. Edward Mordake
(foto) sofria de uma anomalia conhecida como
Craniopagus Parasiticus. Ele possuía outro“rosto parasita”
acoplado à sua nuca. Em seu caso, poderia parecer apenas
um caso de “gêmeo chupim”, mas para muitas pessoas e
para ele mesmo, o que existia em sua nuca era algo mais
sombrio.
Conta-se que a face gêmea apresentava alguns
indícios de inteligência, porém não ingeria
alimentos e inacreditavelmente era capaz de fazer careta,
rir e chorar. O “rosto parasita”era flácido e desfigurado,
algo ameaçador e tétrico. Narra-se que os olhos da “face
intrusa” expressavam malícia e fúria e seguiam as
pessoas pausadamente como se estivesse estudando
aqueles que visualizavam, os seus beiços invariavelmente
faziam barulhos exóticos. Embora sua voz fosse ininteligível,
Edward declarou que muitas vezes foi mantido acordado
durante a noite por conta dos murmúrios de ódio de sua
“face gêmea diabólica” (como passou a chamá-la) e dos
zumbidos lúgubres.
Conquanto o seu caso seja concretamente citado nos
primórdios dos relatos médicos, na verdade sua história é
misteriosa, e foi analisada como caso irreal durante algum
tempo, por ser demasiadamente delirante para se acreditar
e, obviamente, por não fazer muito sentido do ponto de
vista médico, em alguns momentos. A única coisa que
persiste dessa história é a existência de uma foto de Edward,
que comprova que ele realmente existiu, mas quando
exatamente não se sabe.
Há um livro intitulado Anomalies and Curiosities of
Medicine, de George M. Gould e Walter L. Pyle, que faz
referência a Edward Mordake, porém muito do que se conhece
de sua vida é baseado em relatos orais. Muitos componentes
de sua trajetória foram perdidos no decorrer do tempo e
não há fontes consideráveis para os pesquisadores atuais,
exceto a foto(1). Sabe-se que ele viveu em completo
isolamento, recusando-se às visitas, até mesmo dos
familiares. Diz-se que Edward teria pedido aos
médicos que removessem sua “cara diabólica”,
contudo nenhum clínico foi favorável a
fazê-lo, porque a cirurgia seria fatal.
As pessoas começaram a se afastar dele e isso potencializava
sua depressão. Conta-se que nos momentos de tristeza a sua
“face extra”permanecia gracejando como se estivesse
ridicularizando suas dores. Portanto, padecendo com o bullyng
que o “rosto intruso” exercia, Mordake resolveu acabar logo
com aquilo e se matou aos vinte e três anos. Diz-se que o
suicídio ocorreu logo após seus médicos recusarem fazer a
remoção cirúrgica daquele “suplemento facial’ na nuca. Edward
teria deixado uma carta solicitando que a “cara satânica”
fosse destruída de sua cabeça antes de seu sepultamento, a
fim de que ele não continuasse a ouvir seus terríveis
sussurros no além-túmulo.
Descreve-se que gostaria de ser enterrado em um lugar
deserto, sem pedra ou legenda para marcar seu túmulo.
Seu pedido teria sido atendido pelos médicos Manvers e
Treadwell, que cuidavam do caso. Edward foi enterrado
em uma cova de terra barata e sem qualquer tipo de
lápide ou escultura, também a seu pedido.
No mundo somos defrontados com inúmeros casos
teratológicos que assombram e deixam embaraçados
mesmo os mais experientes analistas. Será admissível
que junto com alguém que (re)nasce, reencarnar
concomitantemente um outro Espírito colado em
seu tecido perispiritual (molde do corpo físico), ocasionando
pânico, como no episódio narrado,
tanto para seu hospedeiro como também para quem o visualiza?
Que mistérios existiriam por trás do rosto “demoníaco” de
Edward Mordake?
Pelas leis reencarnatórias, teoricamente, num só corpo não há
como reencarnar mais que um Espírito. No caso dos seres
siameses, por exemplo, existem dois espíritos em corpos
unidos biologicamente (grudados), com dois cérebros
(dicéfalos), dois indivíduos, duas mentes. Embora o caso
Edward não seja um fenômeno de siameses, é manifesto
que existia um Espírito grudado (não sabemos como)
naquela bizarra “face traseira”.
Há casos teratológicos em que nas reencarnações os
Espíritos simpáticos aproximam-se por analogia de
sentimentos e sentem-se felizes por estarem
grudados biologicamente. Porém, os seres que não se
toleram se repelem e são extremante infelizes no convívio.
É da Lei! No caso Edward, do ponto de vista
reencarnatório, que razões levariam a justiça divina a
permitir tal anomalia física?
Por que alguns espíritos necessitam permanecer
algemados biologicamente, compartilhando órgãos e
funções orgânicos, sabendo que nada nos é mais íntimo e
pessoal que o corpo físico?
A ser verdadeira a história de Edward, cremos que são dois
espíritos ligados por cristalizados ódios, construídos ao
longo de muitas reencarnações, e que reencarnam nessas
condições estranhíssimas, raramente por livre escolha e
nem por “punição”de Deus, mas por uma espécie de
determinismo originado na própria lei de Ação e Reação.
Alternando-se as posições como algoz e vítima e
também de dimensão física e extrafísica, constrangidos
por irresistível atração de ódio e desejo de vingança,
buscam-se sempre e culminam se reaproximando em
condições comoventes, que os obriga a compartilhar até do
mesmo sangue vital e do ar que respiram.
Considerando que nos estatutos de Deus não há espaços
para injustiças, a dualidade espiritual presente no corpo
disforme de Mordake é factível . Sobretudo se no
processo de subjugação ocorrida em vidas pregressas ,
quando o obsessor assume o lugar do subjugado em
vários momentos da vida. A subjugação pode ser moral ou
corporal que paralisa a vontade do obsedado.
Materialmente o obsessor atua sobre o corpo físico e
provoca movimentos involuntários. Dava-se antigamente o
nome de possessão ao império exercido por maus Espíritos.
Mas, a possessão seria, para nós, sinônimo da subjugação,
pois não há possessos, no sentido vulgar do termo, há
somente obsidiados, subjugados e fascinados. Poderá ter
como conseqüência a uma espécie de loucura cuja causa o
mundo desconhece, mas que não tem relação alguma com a
loucura ordinária. Entre os que são tidos por loucos, muitos
há que apenas são subjugados; precisariam de um tratamento
moral, enquanto que com os tratamentos corporais os
tornam verdadeiros loucos. Quando os médicos conhecerem
bem o Espiritismo, saberão fazer essa distinção e curarão
mais doentes do que com as duchas”.(2)
Acreditamos que numa reencarnação especialíssima , dois
seres que experimentaram a trama de subjugações
obsessivas podem renascer nas condições especialíssimas
narradas no texto, todavia evidentemente estamos
conjecturando propondo ao leitor amigo mais amplas
reflexões.Muitas vezes não é possível, de imediato,
dissolverem-se essas vinculações anômalas a fim de que
haja total recuperação psíquica dos infelizes protagonistas.
No decorrer dos anos, a imantação se avoluma, tangendo
dimensões cruciais de alteração do corpo perispiritual de
ambos. A analgesia transitória, pela comoção de consciência
causada pela reencarnação, poderá impactar e recompor
os sutis tecidos em desarranjo da alma enferma.
Infelizmente não foi o caso Mordake, pois ele fugiu
do compromisso.Se à época Edward fosse espírita, poderia
ter recorrido a alguns recursos tais como a prática da prece
e da doação de energias magnéticas através do passe, por
exemplo, que são recursos adequados e indispensáveis
para despertar consciências e minimizar os traumas
psicológicos. Soluções essas que para ele se descortinariam
eficazes, iluminando-lhe a consciência para a necessidade
da efetiva reconciliação, arrostando a união pelo laço
indestrutível e saudável do amor.
Nota e referência bibliográfica:
(1) Em 1896, o livro Anomalies and Curiosities of Medicine, de George M. Gould e Walter L. Pyle, mencionava uma versão da
história de Edward Mordake que ficou muito famosa na época e acabou virando referência para vários textos, peças teatrais e
até mesmo para uma música de Tom Waits Poor.
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1997
Nenhum comentário:
Postar um comentário