quinta-feira, 2 de maio de 2013


SUBJUGAÇÃO ININTERRUPTA SOB O GUANTE DE UMA REENCARNAÇÃO?...

Jorge Hessen



Mordake, o homem de dois rostos















Por efeito das buliçosas narrativas sobre as deformações 
físicas, deparamos com eventos gritantes, e ao mesmo 
tempo melancólicos, de pessoas que (re)nasceram 
com os mais singulares tipos de aberrações. Edward Mordake
 (foto) sofria de uma anomalia conhecida como 
Craniopagus Parasiticus. Ele possuía outro“rosto parasita”
acoplado à sua nuca. Em seu caso, poderia parecer apenas 
um caso de “gêmeo chupim”, mas para muitas pessoas e 
para ele mesmo, o que existia em sua nuca era algo mais 
sombrio.
Conta-se que a face gêmea apresentava alguns 
indícios de inteligência, porém não ingeria 
alimentos e inacreditavelmente era capaz de fazer careta,
 rir e chorar. O “rosto parasita”era flácido e desfigurado,
 algo ameaçador e tétrico. Narra-se que os olhos da “face 
intrusa” expressavam malícia e fúria e seguiam as 
pessoas pausadamente como se estivesse estudando 
aqueles que visualizavam, os seus beiços invariavelmente 
faziam barulhos exóticos. Embora sua voz fosse ininteligível, 
Edward declarou que muitas vezes foi mantido acordado 
durante a noite por conta dos murmúrios de ódio de sua 
“face gêmea diabólica” (como passou a chamá-la) e dos 
zumbidos lúgubres.
Conquanto o seu caso seja concretamente citado nos 
primórdios dos relatos médicos, na verdade sua história é
 misteriosa, e foi analisada como caso irreal durante algum 
tempo, por ser demasiadamente delirante para se acreditar
 e, obviamente, por não fazer muito sentido do ponto de 
vista médico, em alguns momentos. A única coisa que 
persiste dessa história é a existência de uma foto de Edward,
 que comprova que ele realmente existiu, mas quando 
exatamente não se sabe.
Há um livro intitulado Anomalies and Curiosities of 
Medicine, de George M. Gould e Walter L. Pyle, que faz 
referência a Edward Mordake, porém muito do que se conhece
 de sua vida é baseado em relatos orais. Muitos componentes 
de sua trajetória foram perdidos no decorrer do tempo e 
não há fontes consideráveis para os pesquisadores atuais, 
exceto a foto(1). Sabe-se que ele viveu em completo 
isolamento, recusando-se às visitas, até mesmo dos 
familiares. Diz-se que Edward teria pedido aos 
médicos que removessem sua “cara diabólica”, 
contudo nenhum clínico foi favorável a 
fazê-lo, porque a cirurgia seria fatal.
As pessoas começaram a se afastar dele e isso potencializava
 sua depressão. Conta-se que nos momentos de tristeza a sua
 “face extra”permanecia gracejando como se estivesse 
ridicularizando suas dores. Portanto, padecendo com o bullyng 
que o “rosto intruso” exercia, Mordake resolveu acabar logo
 com aquilo e se matou aos vinte e três anos. Diz-se que o 
suicídio ocorreu logo após seus médicos recusarem fazer a 
remoção cirúrgica daquele “suplemento facial’ na nuca. Edward 
teria deixado uma carta solicitando que a “cara satânica” 
fosse destruída de sua cabeça antes de seu sepultamento, a 
fim de que ele não continuasse a ouvir seus terríveis 
sussurros no além-túmulo.
Descreve-se que gostaria de ser enterrado em um lugar 
deserto, sem pedra ou legenda para marcar seu túmulo. 
Seu pedido teria sido atendido pelos médicos Manvers e
 Treadwell, que cuidavam do caso. Edward foi enterrado
 em uma cova de terra barata e sem qualquer tipo de
 lápide ou escultura, também a seu pedido.
No mundo somos defrontados com inúmeros casos 
teratológicos que assombram e deixam embaraçados 
mesmo os mais experientes analistas. Será admissível 
que junto com alguém que (re)nasce, reencarnar 
concomitantemente um outro Espírito colado em 
seu tecido perispiritual (molde do corpo físico), ocasionando
 pânico, como no episódio narrado, 
tanto para seu hospedeiro como também para quem o visualiza?
 Que mistérios existiriam por trás do rosto “demoníaco” de 
Edward Mordake?
Pelas leis reencarnatórias, teoricamente, num só corpo não há 
como reencarnar mais que um Espírito. No caso dos seres 
siameses, por exemplo, existem dois espíritos em corpos 
unidos biologicamente (grudados), com dois cérebros 
(dicéfalos), dois indivíduos, duas mentes. Embora o caso 
Edward não seja um fenômeno de siameses, é manifesto 
que existia um Espírito grudado (não sabemos como) 
naquela bizarra “face traseira”.
Há casos teratológicos em que nas reencarnações os 
Espíritos simpáticos aproximam-se por analogia de 
sentimentos e sentem-se felizes por estarem 
grudados biologicamente. Porém, os seres que não se 
toleram se repelem e são extremante infelizes no convívio.
 É da Lei! No caso Edward, do ponto de vista 
reencarnatório, que razões levariam a justiça divina a 
permitir tal anomalia física? 
Por que alguns espíritos necessitam permanecer 
algemados biologicamente, compartilhando órgãos e 
funções orgânicos, sabendo que nada nos é mais íntimo e
 pessoal que o corpo físico?
A ser verdadeira a história de Edward, cremos que são dois 
espíritos ligados por cristalizados ódios, construídos ao 
longo de muitas reencarnações, e que reencarnam nessas 
condições estranhíssimas, raramente por livre escolha e 
nem por “punição”de Deus, mas por uma espécie de 
determinismo originado na própria lei de Ação e Reação. 
Alternando-se as posições como algoz e vítima e 
também de dimensão física e extrafísica, constrangidos
 por irresistível atração de ódio e desejo de vingança, 
buscam-se sempre e culminam se reaproximando em 
condições comoventes, que os obriga a compartilhar até do 
mesmo sangue vital e do ar que respiram.
Considerando que nos estatutos de Deus não há espaços
 para injustiças, a dualidade espiritual presente no corpo 
disforme de Mordake é factível . Sobretudo se no  
processo de subjugação ocorrida em vidas pregressas , 
quando o obsessor assume o lugar do subjugado  em 
vários momentos da vida. A subjugação pode ser moral ou 
corporal que paralisa a vontade do obsedado.  
Materialmente o obsessor atua sobre o corpo físico e 
provoca movimentos involuntários. Dava-se antigamente o 
nome de possessão ao império exercido por maus Espíritos.
Mas,  a possessão seria, para nós, sinônimo da subjugação, 
pois não há possessos, no sentido vulgar do termo, há 
somente obsidiados, subjugados e fascinados. Poderá ter
 como conseqüência a uma espécie de loucura cuja causa o 
mundo desconhece, mas que não tem relação alguma com a 
loucura ordinária. Entre os que são tidos por loucos, muitos 
há que apenas são subjugados; precisariam de um tratamento 
moral, enquanto que com os tratamentos corporais os 
tornam verdadeiros loucos. Quando os médicos conhecerem 
bem o Espiritismo, saberão fazer essa distinção e curarão
 mais doentes do que com as duchas”.(2)
Acreditamos que numa reencarnação especialíssima , dois
 seres que experimentaram a trama de subjugações 
obsessivas podem  renascer nas condições especialíssimas
 narradas no texto, todavia evidentemente estamos 
conjecturando  propondo ao leitor amigo mais amplas 
reflexões.Muitas vezes não é possível, de imediato, 
dissolverem-se essas vinculações anômalas a fim de que
 haja total recuperação psíquica dos infelizes protagonistas. 
No decorrer dos anos, a imantação se avoluma, tangendo 
dimensões cruciais de alteração do corpo perispiritual de 
ambos. A analgesia transitória, pela comoção de consciência
 causada pela reencarnação, poderá impactar e recompor 
os sutis tecidos em desarranjo da alma enferma.
Infelizmente não foi o caso Mordake, pois ele fugiu
 do compromisso.Se à época Edward fosse espírita, poderia
 ter recorrido a alguns recursos tais como a prática da prece
 e da doação de energias magnéticas através do passe, por 
exemplo, que são recursos adequados e indispensáveis 
para despertar consciências e minimizar os traumas 
psicológicos. Soluções essas que para ele se descortinariam
 eficazes, iluminando-lhe a consciência para a necessidade 
da efetiva reconciliação, arrostando a união pelo laço 
indestrutível e saudável do amor.

Nota e referência bibliográfica:
(1) Em 1896, o livro Anomalies and Curiosities of Medicine, de George M. Gould e Walter L. Pyle, mencionava uma versão da 
história de Edward Mordake que ficou muito famosa na época e acabou virando referência para vários textos, peças teatrais e 
até mesmo para uma música de Tom Waits Poor.
(2) Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns, Cap. XXIII, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1997

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