Damos sequência nesta edição ao estudo do livro A Morte e os seus Mistérios, de Ernesto Bozzano, conforme tradução de Francisco Klörs Werneck.
Questões preliminares
A. Há relatos de Espíritos confirmando a experiência da “visão panorâmica”?
Sim. Esses relatos é que compõem a 3ª categoria dos casos examinados neste livro, embora, segundo Bozzano, não apresentem eles valor científico dada a impossibilidade de verificar, diretamente, as afirmações das personalidades mediúnicas. (A Morte e os seus Mistérios. Casos de "visão panorâmica". 3ª categoria.)
B. Existe, mesmo assim, algum valor nas comunicações mencionadas?
Como as sessões, em que foram obtidas, tiveram lugar em épocas diferentes e continentes diversos e, não raramente, na presença de pessoas que ignoravam a existência deste gênero de fenômenos, este concurso de circunstâncias, indiretamente, reveste de certo valor as comunicações assim feitas. Ademais, se grande número de personalidades sonambúlicas, comunicando-se mediunicamente, em momentos diferentes, em continentes diversos e na presença de pessoas que ignoram a existência de determinada categoria de fenômenos, relatam a ocorrência desses fenômenos, somos logicamente levados a admitir que eles não podem ser explicados de outra maneira senão reconhecendo sua origem francamente espírita. (Obra citada. Casos de "visão panorâmica". 3ª categoria.)
C. Que sensações uma pessoa experimenta durante a crise da morte?
Elas variam conforme os indivíduos. Segundo Jim Nolan, morto na guerra de secessão norte-americana, a sensação é a mesma que se experimenta quando o sono se apodera da gente, deixando, porém, que se possa lembrar de alguma ideia que tenha tido antes do sono. Um pouco antes da crise fatal, a mente de Jim Nolan tornou-se, porém, muito ativa e ele lembrou-se subitamente de todos os acontecimentos de sua vida. Viu e ouviu tudo que fizera, dissera, pensara, todas as coisas a que estivera associado. Recordou-se até dos jogos e brincadeiras do acampamento militar, e gozou-os como quando participou deles. (Obra citada. Casos de "visão panorâmica". 3ª Categoria: Caso XV.)
Texto para leitura
325. A 3ª categoria dos casos examinados neste livro compõe-se de relatos feitos por Espíritos que afirmam ter passado pela experiência da "visão panorâmica". Segundo Bozzano, tais casos não apresentam valor científico dada a impossibilidade de verificar, diretamente, as afirmações das personalidades mediúnicas. Contudo, semelhantes afirmações são dignas de ser aqui mencionadas, de modo complementar, ao estudo do tema proposto, porque em todos os episódios, a seguir narrados, dá-se esta circunstância: as personalidades mediúnicas comunicantes fazem menção espontânea da experiência da "visão panorâmica" pela qual passaram na crise da morte e nunca a pedido dos experimentadores.
326. Como as sessões, em que foram obtidas essas informações, tiveram lugar em épocas diferentes e continentes diversos e, não raramente, na presença de pessoas que ignoravam a existência deste gênero de fenômenos, este concurso de circunstâncias, indiretamente, reveste de certo valor as comunicações assim feitas. Ademais, se grande número de personalidades sonambúlicas, comunicando-se mediunicamente, em momentos diferentes, em continentes diversos e na presença de pessoas que ignoram a existência de determinada categoria de fenômenos, relatam a ocorrência desses fenômenos, somos logicamente levados a admitir que eles não podem ser explicados de outra maneira senão reconhecendo a sua origem francamente espírita.
327. Caso XIII - O seguinte episódio é devido à mediunidade de eminente precursor do movimento espírita: o juiz Edmonds, de New York. Pouco antes havia ele perdido um dos seus mais caros amigos, o juiz Peckham, da Corte de Apelação da mesma cidade, o qual morrera, tragicamente, com a esposa, num acidente de colisão entre dois vapores. Numa experiência pessoal de escrita automática, manifestou-se o falecido amigo, fornecendo-lhe excelentes provas de sua própria identidade e narrando a visão de sua morte, assim como sua presente vida espiritual.
328. De sua comunicação, destaca-se o seguinte: "Se eu tivesse podido escolher o modo de separar-me de meu invólucro corporal, certamente que não teria preferido o que me levou a desencarnar. Todavia, isso agora já não me interessa, depois do instante em que, bruscamente, me achei transportado a ambiente tão belo e tão extraordinariamente variado... No momento da morte, revi, integralmente, toda a minha existência terrena. Todas as ações, todas as cenas, todos os incidentes da vida se desenrolaram diante de meus olhos, tão vivamente expressos como se tivessem sido gravados na minha mente em fórmulas luminosas. Nem um só de meus amigos foi esquecido. No instante em que mergulhei no mar, com minha esposa nos braços, apareceram-me meu pai e minha mãe, e foi esta que nos tirou da água com um facilidade cuja natureza só agora compreendo."
329. Era a primeira vez que o juiz Edmonds ouvia falar de "visão panorâmica" e, quando a sua mão traçou essa comunicação, ele se achava sozinho. É, pois, evidente que, com a hipótese das personalidades subconscientes, não se consegue explicar semelhante alusão espontânea feita a um fenômeno real, mas ignorado pelo médium. Fica, assim, confirmado o que fora observado acima, isto é, que os fenômenos deste gênero só podem ser explicados pela aceitação de sua origem espírita.
330. Caso XIV - Este caso figura no livro da Sra. De Morgan intitulado From Matter to Spirit. A personalidade mediúnica do Dr. Horace Abraham Ackley descreve, nestes termos, sua própria experiência de separação entre o Espírito e o corpo somático: "Eu sentia que me soltava gradualmente de meu corpo, mas, achando-me em estado de consciência pouco lúcida, parecia sonhar. Experimentava a sensação de estar minha personalidade em duas partes que, entretanto, pareciam associadas por um laço indissolvível. Quando o organismo corporal deixou de funcionar, meu Espírito pôde libertar-se completamente e então me pareceu que as partes separadas de minha personalidade se recompunham em uma só. Simultaneamente senti-me levantado acima de meu cadáver, à pequena distância dele, de onde via distintamente as pessoas que rodeavam meu corpo. Não poderia dizer por qual poder consegui erguer-me e a tornar-me livre no ar. Depois desse acontecimento, suponho ter passado um período bem longo em estado de inconsciência (o que, aliás, acontece frequentemente, se bem que tal não acontece em todos os casos), deduzindo-o do fato de que, quando tornei a ver meu cadáver, achava-se ele em adiantado estado de putrefação. Logo que voltei a mim, todos os acontecimentos de minha vida desfilaram diante de meus olhos como num panorama; eram visões vivas, muito reais, em dimensões naturais, como se o meu passado tivesse se tornado presente. Foi efetivamente todo o meu passado que revi, inclusive o último episódio de minha desencarnação. A visão desfilou diante de mim com tal rapidez que quase não tive tempo de refletir, achando-me como que arrebatado por um turbilhão de emoções e, a seguir, desapareceu com a mesma rapidez com que se mostrava. As meditações sobre o passado e o futuro suscitaram em mim vivo interesse por minha condição atual.”
331. Prossegue o relato do Dr. Ackley (Espírito): “Já ouvira os espíritas dizerem que os Espíritos desencarnados eram acolhidos no mundo espiritual por seus parentes ou por seus Espíritos-guias. Não percebendo ninguém perto de mim, concluí que os espíritas estavam enganados, mas, apenas este pensamento me atravessou a mente, vi dois Espíritos que me eram desconhecidos e para os quais me sentia atraído por um sentimento de afinidade. Soube que haviam sido homens muito instruídos e inteligentes, mas que, como eu, não haviam pensado em desenvolver em si próprios os elevados princípios da espiritualidade. Chamaram-me pelo nome, embora não o tivesse eu pronunciado, e me acolheram com uma familiaridade tão benévola que me senti agradavelmente reconfortado. Deixei em companhia deles o meio em que desencarnara e que me conservara até aquele instante. Pareceu-me nebulosa a paisagem que atravessei, mas, dentro daquela meia obscuridade, fui conduzido a um lugar onde vi reunidos numerosos Espíritos, entre os quais muitos que eu conhecera na Terra e que já haviam morrido há algum tempo."
332. Do ponto de vista em apreço, o Espírito comunicante afirma ter passado pela prova da "visão panorâmica" de seu passado, prova que, neste caso, em lugar de se desenrolar espontaneamente, em consequência de uma superexcitação sui generis das faculdades mnemônicas (superexcitação produzida pela crise da agonia, ao que dizem os psicólogos), parecia antes provocada pelos "guias" espirituais com o propósito de predispor o Espírito recém-chegado a uma espécie de "exame de consciência".
333. Caso XV – Este caso foi extraído do livro do Dr. Wolfe Startling intitulado Facts in modern spiritualism (Maravilhosos fatos do neo-espiritualismo). Jim Nolan, o Espírito-guia da célebre médium Sra. Hollis - Espírito que afirmou e demonstrou ter sido soldado na guerra de secessão norte-americana e haver morrido de tifo num hospital militar - assim respondeu às seguintes perguntas formuladas por um dos experimentadores:
P. - Que impressão tiveste de tua primeira entrada no mundo espiritual?
R. - Parecia-me que despertava de um sono, com um pouco de atordoamento a mais. Já não me sentia enfermo e isso me espantava grandemente. Tinha vaga suspeita de que algo de estranho se passara, mas não sabia definir de que se tratava. Meu corpo estava estendido no leito de campanha e eu o via bem. Dizia para comigo mesmo: "Que estranho fenômeno!" Olhei ao derredor e vi três camaradas meus, mortos nas trincheiras diante de Viksburg e que eu mesmo enterrara. Entretanto, ali estavam na minha presença. Olhavam-me, a sorrir. Então, um dos três me saudou, dizendo:
- Bom-dia, Jim; também és um dos nossos.
- Sou dos "nossos"? Que queres dizer?
- Mas... que te encontras aqui, conosco, no mundo dos Espíritos. Não te apercebes disto? É um meio onde se está bem.
Estas palavras eram muito fortes para mim. Fui presa de violenta emoção e exclamei: "Meu Deus! Que dizes? Estou morto?" - "Não, estás mais vivo do que nunca, porém te encontras no mundo dos Espíritos. Para ficares convencido, não tens mais do que olhar para teu corpo." Com efeito, meu corpo jazia inerte, diante de mim, sobre uma tarimba. Como, pois, contestar o fato? Pouco depois chegaram dois homens que puseram meu cadáver em cima de uma prancha e o transportaram para perto de outro carro, em que o meteram, subiram à boleia e partiram. Acompanhei então o carro, que parou à borda de um fosso, onde meu cadáver foi arriado e sepultado. Fora eu o único assistente de meu próprio enterro...
P. - Quais as sensações que experimentaste na crise da morte?
R. – A que se experimenta quando o sono se apodera da gente, mas deixando ainda que se possa lembrar de alguma ideia que tenha tido antes do sono. É o que se dá por ocasião da morte. Mas, um pouco antes da crise fatal, minha mente se tornara muito ativa; lembrei-me subitamente de todos os acontecimentos de minha vida; vi e ouvi tudo que fizera, dissera, pensara, todas as coisas a que estivera associado. Recordei-me até dos jogos e brincadeiras do acampamento militar; gozei-os como quando participei deles."
334. No que diz respeito ao caso e querendo argumentar o modo pelo qual se exprime a entidade comunicante, pode-se dizer que, para ela, a recapitulação da morte se desenvolveu, antes, sob a forma de uma "síntese de recordações" do que sob a forma de uma "visão panorâmica", diferença que, naturalmente, não modifica os termos do problema a resolver e que demonstraria apenas que a entidade comunicante, na vida terrena, não pertencia ao que, em linguagem psicológica, é qualificado de "tipo visual", mas de preferência ao "tipo auditivo-mental".