segunda-feira, 21 de março de 2016

O espírita, as redes sociais e crise política

            Nosso país enfrenta um dos mais delicados, sérios e conturbados momentos. Uma crise de natureza moral sem precedentes arrasta de roldão as lideranças políticas nas quais a população depositou sua confiança. Ao mesmo tempo, a desordem econômica se instala e o quadro de recessão se aprofunda dia após dia, custando o emprego e a dignidade de homens e mulheres que nada fazem a não ser batalhar diuturnamente pelo seu sustento, o sustento de suas famílias e para conquistar alguma melhoria de vida.
            Em resumo, o cenário é gravíssimo e, lamentavelmente, a onda de pessimismo tem sido incessantemente alimentada por discursos de ódio recíproco entre os partidários daqueles que ora são investigados por supostos crimes de corrupção e os que exigem justiça e o expurgo destes do poder. De tal forma que milhões de brasileiros estão atirando gasolina a uma fogueira já quase incontrolável, havendo inclusive o temor do surgimento de uma convulsão social inédita no Brasil, que desaguaria numa guerra civil de consequências imprevistas.
            Na condição de rede social mais acessada no Brasil, o Facebook transformou-se no palco para que desde os mais anônimos cidadãos até artistas, jornalistas, celebridades, intelectuais e políticos expressem seu ponto de vista e gritem seus posicionamentos.
            Algumas centenas de milhares desses internautas o fazem com veemência, valendo-se de compartilhamento de conteúdos de sites até bem pouco tempo desconhecidos, vídeos, áudios, fotos e textos, quase que em geral de conteúdo extremista, assustadoramente raivosos e – o que é mais preocupante – sem qualquer possibilidade de verificação de veracidade das informações que divulgam, constituindo, assim, uma gigantesca máquina que produz calúnias, impropérios, xingamentos, expressões chulas referindo-se, ora às autoridades constituídas, ora direcionando metralhadora implacável a quem se encontra na oposição.
            O tom do “nós contra eles” jamais foi elevado a patamares tão altos. O discurso do ódio ao diferente e a intolerância entre partidários desta ou daquela ideia está rachando o Brasil e colocando irmãos em trincheiras distintas, como se o que todos desejassem não fosse a mesma coisa: o bem da nação, a prosperidade e o reequilíbrio da governabilidade. Em resumo, a paz social aliada ao progresso.
Até certo ponto é compreensível que uma massa gigantesca de espíritos encarnados ignorantes das verdades evangélicas se deixe arrastar pela onda de pessimismo e de ódio que é própria de nosso estágio evolutivo ainda tão primário. É possível entender que multidões de espíritos encarnados ainda enredados em teias tenazes de paixões inferiores, ainda cegas aos conhecimentos das Leis Naturais, permaneçam servindo de joguetes de interesses de forças que buscam somente desestabilizar o Coração do Mundo, a Pátria do Evangelho.
Entretanto, assistir a espíritas militantes da causa maior cederem ao clima de ódio e darem vazão ao desequilíbrio em suas postagens, compartilhamentos e comentários, é entristecedor.
Aqueles que somos conhecedores da Lei de Causa e Efeito, aqueles que nos dizemos discípulos do Mestre Jesus, aqueles que nos debruçamos todos os dias sobre as páginas inspiradoras do Evangelho, não podemos ser os portadores da desesperança, mas da esperança acima de todo o desalento; não podemos abraçar a causa do ódio, mas fazer tremular a bandeira do amor; não podemos engrossar as fileiras da intolerância, mas gritar a plenos pulmões que somos todos irmãos e que haveremos de encontrar no diálogo e na convergência a solução dos graves problemas que assolam o Brasil.
Nós, que pretendemos nos tornar os homens e mulheres de bem que dirigirão um planeta de regeneração, não podemos esquecer que o Evangelho nos ensina que “O homem de bem (...) tem fé no futuro, por isso coloca os bens espirituais acima dos bens temporais. Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores, todas as decepções, são provas ou expiações e as aceita sem murmurar. (...) Respeita nos outros todas as convicções sinceras, e não lança o anátema àqueles que não pensam como ele. Em todas as circunstâncias a caridade é o seu guia (...). Não tem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; a exemplo de Jesus, perdoa e esquece as ofensas, e não se lembra senão dos benefícios; porque sabe que lhe será perdoado conforme ele próprio houver perdoado. É indulgente para com as fraquezas alheias, porque sabe que ele mesmo tem necessidade de indulgência, e se lembra dessas palavras do Cristo: aquele que estiver sem pecado lhe atire a primeira pedra.”(Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XVI, item 3)
Não podemos perder de vista que somos discípulos daquele que, do alto da cruz, pediu ao Pai que perdoasse seus algozes, aquele que durante a sua missão, lidou de maneira sábia e respeitosa até mesmo com os corruptos e poderosos, exatamente porque sabia que eles apenas detinham temporariamente o poder e a condição de mando, depois disso, só teriam o compromisso de resgatar os erros dos desmandos que perpetraram no exercício do poder.
A proposta não é que nós os espíritas fechemos os olhos à corrupção e vivamos como se nada estivesse acontecendo, tal como alienados ou imbecilizados. Somos, isso sim, conclamados a interferir com equilíbrio, enriquecendo o debate, qualificando a discussão, evangelizando, sem pieguismos ou pieguices, o meio virtual e mesmo os debates cara a cara, nos meios sociais em que circulamos.
“Sede prudentes como as serpentes e simples como as pombas”, disse Jesus aos seus discípulos ao os enviar às aldeias para pregarem a Boa Nova. É exatamente isso que Ele nos diz ao coração hoje, a nós que somos os pregadores da Boa Nova no Brasil do século XXI. Sejamos prudentes em relação aos que praticam e estimulam a corrupção, o ódio, a intolerância, os abusos de poder. Entreguemo-los à justiça, para que esta apure no patamar terreno seus possíveis crimes e os puna com a severidade que as leis brasileiras – imperfeitas, é verdade – determinam.
Nós, espíritas, sabemos melhor que ninguém, que a Lei Maior os alcançará a todos, cedo ou tarde. Aquilo que a lei humana não conseguir reparar ou educar, será feito pela doutra Lei, esta sim implacável, absolutamente justa e incorruptível, plantada na consciência de cada um de nós.
Por fim, sejamos simples como as pombas, guardando sempre uma palavra de esperança para os que postam conteúdos de desatino, uma palavra de caridade para aqueles que publicam conteúdos de ódio; uma palavra de fé para aqueles que estão demonstrando nas suas postagens que estão cada dia mais desacreditados no futuro da nação; uma palavra de tolerância para aqueles que pregam a destruição do diferente e a depredação das instituições.
E se não tivermos nada de engrandecedor para postar ou para dizer, preservemos o silêncio típico daqueles que se mantêm em oração e em vigilância ao invés de atear mais lenha à fogueira.
Os corruptos passarão, tanto os que hoje estão no poder quanto aqueles que permanecem na oposição, esperando a sua chance de pilharem o país. Assim como passarão os homens e mulheres de bem que estão em ambos os lados. A vida física cessará, cedo ou tarde para todos. E cada um reencontrar-se-á com a sua consciência, confrontar-se-á com as suas atitudes, pagará o preço suave ou pesado de suas escolhas, colherá os frutos, doces ou amargos, do que tiver semeado.
O Brasil sobreviverá, se recuperará e se erguerá acima das nações, porque sua destinação é nobre. No cenário do planeta de regeneração, ele cumprirá papel estratégico.
As obras das trevas jamais poderão ofuscar a luz do Amor Maior, mesmo que até alguns espíritas deem publicidade a elas.

Ronaldo Pereira da Silva.

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