sábado, 14 de abril de 2012





O MUNDO PÓS-IDEIAS



Jerri Almeida

Vivemos, é bem verdade, no mundo da informação. Nunca se teve tanta rapidez no fluxo das notícias, na transmissão de conhecimentos e saberes, como no mundo contemporâneo. Milhares de novas teses, dissertações e pesquisas são cotidianamente publicadas. A internet democratizou o acesso à informação em seu sentido mais amplo e genérico. Documentos que antes somente poderiam ser acessados em arquivos, hoje estão disponíveis gratuitamente na web. Jornais, acervos, blogs, redes sociais, entre outros, levam conteúdos, os mais variados, para dentro de nossas mentes. Vivemos, inegavelmente, um excesso estressante de informações.
Thomaz Wood Jr, em seu interessante artigo: “Pensar dói?”, publicado na revista Carta na Escola (Dezembro de 2011, nº 62), cita o texto do professor Neal Gabler publicado no New York Times, no qual assevera: “...vivemos em uma sociedade na qual ter informações tornou-se mais importante do que pensar: uma era pós-ideias.” Vivemos a ditadura da informação “opaca”, amorfa,  incapaz de gerar qualquer tipo de reação ousada ou revolucionária. Não uso aqui a palavra “revolução” no sentido marxista, muito menos no seu sentido de produzir conflitos armados, ou coisa do gênero. Refiro-me, isto sim, a uma atitude dialética das ideias que vem sendo enterrada e sufocada pelo consumo exorbitante da informação.
Na revista já citada, encontramos também um artigo do professor doutor em filosofia pela USP, Juvenal Savian Filho, no qual afirma que o excesso de informações tolhe-nos a capacidade de elaborar reflexões mais profundas e articuladas, pois: “ ...somos levados a nadar apenas na superfície das ideias e a consumir mensagens relâmpagos, num fluxo frenético de imagens e sons que abafam nossa vocação para o pensamento.” (p. 34) Para ele, o efeito disso é uma escassez de novas e impactantes ideias, causando uma espécie de “irracionalismo” Ou seja, o ato de “pensar” está sendo deixado de lado.
Nas escolas e, pasmem, nas universidades, encontramos alunos que recusam-se, obstinadamente, a pensar. Para esses, a salvação é somente duas teclas (medíocres) de qualquer computador que esteja conectado à rede: “Ctrl + C” e “Ctrl + V”.  Vive-se os infames dias do saber “fast food”. Para os adoradores dos conteúdos enlatados, “pensar dói”.  Talvez por isso, muitos adultos de hoje também não saibam resolver problemas. Talvez por isso, também, muitos adultos busquem soluções milagrosas, instantâneas, para seus dilemas. São os pais que levam o filho de 8 anos ao médico, para que este, receite cápsulas de boas maneiras, comprimidos de respeito, ou um sossega Leão, para o menino indisciplinado que nem o pai nem a mãe querem ter o trabalho de educar. A debilidade das ideias terceiriza problemas e soluções.
Pensar, como alguém certamente já disse, dá trabalho! Como vivemos numa cultura que nos induz ao prazer instantâneo, o ato de pensar é uma heresia, que somente se justifica quando “descompromissadamente”. Se o futuro aponta para uma “overdose” de informação, muita gente irá morrer de inanição mental. É trágico!
Mas, como prefiro não me filiar aos pessimistas, creio que dessa “tragédia” renascerá um novo “iluminismo”, onde reaprenderemos a pensar.  Descobriremos o prazer de pensar e refletir sobre as coisas, nos tornando novamente amigos da sabedoria e, por fim, sobreviveremos redescobrindo o filosofar. 

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